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BLOG – Otopatias em cães e gatos

22 de fevereiro de 2022

As otites em cães representam uma grande casuística  na clínica de pequenos animais, chegando a perfazer 20% dos atendimentos. Já no caso dos felinos, a ocorrência é menor, contudo a despeito de menos frequente, o médico veterinário deve se atentar, especialmente quanto à gravidade dos quadros otológicos em gatos.

Podem ser classificadas, segundo a anatomia em:

  • Otite externa: quando do acometimento da orelha externa (pavilhões auriculares, meato acústico, conduto auditivo porções vertical e horizontal e face externa da membrana timpânica)
  • Otite médica: quando do acometimento da orelha médica (face interna da membrana timpânica, martelo, bigorna e estribo, cavidade timpânica e tuba auditiva)
  • Otite interna: quando do acometimento da orelha interna (canais semi-circulares, cóclea e vestíbulo)

As otites externas são aquelas mais frequentes e normalmente estão associadas a problemas dermatológicos e são classificadas de acordo com a sua etiologia em:

Otite externa ceruminosa: caracterizada pelo aumento da produção de cera e posterior inflamação, perpetuando o ciclo: produção de cera-inflamação-produção de cera. Tem como causas: otoacaríase, predisposição genética (como no caso dos cães da raça Labrador), distúrbios seborréicos e disqueratóticos e enfermidades endócrinas. Ressalta-se que essas causas devem ser investigadas. É caracterizada por eritema meatal, muitas vezes acometendo pavilhões auriculares e presença de cerumen que varia do acastanhado ao enegrecido, principalmente na otoacaríase.

Otite externa eczematosa: caracterizada pela inflamação do epitélio e consequente aumento da produção de cera. As causas são: enfermidades alérgicas (Dermatite alérgica à picada de pulgas, alergia alimentar e dermatite atópica), otoacaríase e otomicose.  Caracteriza-se pelo eczema (eritema e descamação), alteração de espessura da face interna de pavilhões auriculares, edema e produção de cerumen dourado, acastanhado e enegrecido. O prurido ótico é frequente.

Otite fúngica: ocorre secundariamente às otites ceruminosas ou eczematosas pelo crescimento de leveduras (Malassezia pachydermatis) comensais em conduto auditivo. A Malassezia pachydermatis quando se torna patogênica, produz fatores de virulência que induzem a mais processo inflamatório piorando e perpetuando o quadro otopático.

Otite bacteriana: ocorre secundariamente às otites ceruminosas ou eczematosas pelo crescimento de bactérias comensais em conduto auditivo a exemplo do Staphylococcus pseudointermedius, ainda podem ser complicadas por bactérias patogênicas que se instalam secundariamente como a Pseudomonas spp e o Proteus spp, entre outras. É comum a ocorrência de otite bacteriana decorrente à presença de pólipos, que deve ser sempre investigado especialmente naqueles casos de otite bacteriana unilateral ou naquelas de difícil controle.

Otite estenosante: ocorre quando o agravo inflamatório acarreta hiperplasia epitelial que pode evoluir para fibrose e calcificação. Os casos de estenose são mais comumente secundários às otites eczematosas (otites de causa alérgica) e frequentemente necessitam de tratamento medicamentoso com uso de corticóides tópicos e/ou sistêmicos para reduzir a estenose e quando de falha terapêutica, a intervenção cirúrgica (ablação parcial ou total dos condutos auditivos) pode ser requerida.

Manifestações clínicas das otites externas compreendem:

Eritema (pavilhões auriculares, meato e conduto auditivo)

Meneios cefálico

Prurido

Otorréia

Otalgia (dor)

Otohematoma

Ressaltando que cronicamente podem evoluir para:

Alterações proliferativas – ESTENOSE/OCLUSÃO – Fibrose e/ou mineralização

No que se refere ao diagnóstico das otopatias, a anamnese, exame físico e exame dermatológico são essenciais. O exame otológico vai incluir: inspeção de pavilhões auriculares, do meato, presença de cerumen aderido, olfação e palpação. O exame otoscópico deve ser realizado, seguindo a técnica correta, e com a utilização de um bom otoscópio veterinário. Não é indicada a utilização de otoscópios humanos para a avaliação dos condutos auditivos de cães e gatos.

O exame parasitológico de cerúmen deve fazer parte do exame otológico de todos os pacientes, uma vez que, principalmente nos felinos, a otoacaríase é uma das possíveis causas de otite ceruminosa e eczematosa.

Ainda, como forma de avaliação especialmente da presença de leveduras e/ou bactérias, o exame citológico (citofungoscópico e citobacteriológico) é fundamental.

A cultura e antibiograma está indicada nos casos de otite média e somente em alguns casos de otite externa bacteriana de difícil controle, desde que identificada e controlada a causa de base. Muitos casos de otite bacteriana de difícil controle, existe a presença de pólipos ou neoplasias que devem ser identificados e quando possível, removidos.

O exame fibro-otoscópico (otoendoscópico) deve ser requerido quando da suspeita de otite média, presença de pólipos ou neoplasia e como auxílio no tratamento das otites.

Também quando da suspeita de otite média e/ou presença de neoplasias os exames de tomografia computadorizada e/ou ressonância magnética são de extrema valia.

Ressalta-se que exames radiográficos (RX de crânio) tem indicação bastante limitada, podendo não contribuir para as condutas diagnóstica e terapêutica.

Otite média/interna

As otites médias/internas podem ser classificadas em:

Primárias: quando ascendentes da nasofaringe pela tuba auditiva e ocorrem, geralmente, nos felinos e nos braquiocefálicos (Pug, Bulldog, Persa entre outros).

Secundárias: nos quadros de otite externa quando existe ruptura de membrana timpânica

Quanto às manifestações clínicas decorrentes da otite média/interna, observam-se com frequência:

Disfunção do nervo facial: paralisia facial

Síndrome de Horner (inervação simpática do olho)

Síndrome vestibular periférica (nervo vestíbulo coclear)

Nistagmo

Neurite do nervo facial e o paciente terá, como consequência, incapacidade de manutenção de tônus da musculatura facial, ptose labial e palpebral, ausência de produção de lágrima, perda de paladar, perda de produção de saliva e perda de expressão facial .

A dor também está presente nesses casos, muitas vezes sendo manifestada por dificuldade de apreensão de alimento, vocalização ao se alimentar ou à manipulação.

Não é incomum manifestações como: “head tilt”, ataxia, quedas e andar em círculo.

Os exames complementares que devem ser requeridos para avaliação:

Otoscopia com avaliação de membrana timpânica, muitas vezes deve ser realizado sob anestesia geral

Tomografia computadorizada

Otoendoscopia

Cultura e antibiograma de material colhido de cavidade timpânica

Radiografia de crânio, muitas vezes o único recurso disponível, mas que tem grande limitação para diagnóstico de otite média/interna. A radiografia contrastada pode auxiliar na consecução diagnóstica.

O tratamento das otites externas, médias e internas baseiam-se no diagnóstico, identificação de causa de base, controle dos quadros infecciosos e inflamatórios.

Sugere-se como leitura:

Epidemiological study of dogs with otitis externa in Cape Breton, Nova Scotia – Vetsapiens

Pilot study of dogs with suppurative and non-suppurative Malassezia otitis: A case series – Vetsapiens

Canine otitis externa — Treatment and complications – Vetsapiens

Malassezia Yeasts in Veterinary Dermatology: An Updated Overview – Vetsapiens

 

Por: Profa MSc Rita Carmona

 

 

 

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