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BLOG – Dermatopatias que pioram com o verão

25 de janeiro de 2022

Por: Dra Rita Carmona

O verão chegou e com ele, recordes de altas temperaturas. É evidente que essa é uma estação que proporciona aos cães estarem mais fora do domicílio, seja durante os passeios, em permanência em maior parte do tempo em ambientes abertos, visitas às praias, ao campo. Na minha atuação na dermatologia veterinária há 20 anos, percebo que essa é uma época de grande busca ao atendimento dermatológico, por vários motivos.

A pele é o maior órgão em extensão e é aquele que está exposto ao meio ambiente e essa interação pode gerar manifestações cutâneas inflamatórias (queimaduras, fotodermatite) ou pré-neoplásicas ou neoplásicas.  

A exposição dos raios UVA e UVB resulta na formação de ciclobutanos (CPDs) e pirimidina-pirimidonas (6-4PPs) que serão responsáveis por possíveis modificações estruturais do DNA que podem determinar a carcinogênese. 

Ainda vale ressaltar que os raios UVB podem levar à imunossupressão ou imunorregulação e inflamação, apesar dos mecanismos ainda não totalmente elucidados, mas que provavelmente estão relacionados à liberação de interleucinas como IL 10, TNF alfa, IL 1 e PGE2. 

As principais alterações relacionadas à exposição solar são:

Dermatite actínica, causada por lesões teciduais diretas que englobam a dermatite solar nasal, dermatite solar felina e dermatite solar canina. Em todas elas, há maior predisposição em animais de pelame branco, em áreas de rarefação pilosa mais expostas às radiações solares e nas áreas expostas despigmentadas, como espelho e plano nasal e de pavilhões auriculares.

A dermatite solar nasal canina acomete especialmente cães expostos ao sol e que possuem despigmentação e rarefação pilosa em região de plano e ponte nasal. Inicialmente a área afetada apresenta eritema com deposição de crostas. Nessa fase, caso haja uso adequado de protetores solares e da retirada de exposição ao sol, há reversão do quadro. Do contrário poderá evoluir para lesões inflamatórias mais graves e a perpetuação do processo poderá predispor ao carcinoma espinocelular.

A dermatite solar felina é considerada uma dermatopatia de evolução crônica que acomete animais de pelame claro e branco, nas regiões perioculares, perilabiais, nasais e de pavilhões auriculares. Inicia-se com eritema que vai evoluir com deposição de crostas hemáticas, aumento da espessura da pele e ulcerações. É como o desconforto e dor local que leva ao auto traumatismo. Assim como na dermatite solar do plano nasal, há frequente evolução para o carcinoma espinocelular. 

Ainda, a dermatite solar de tronco e extremidades canina deve ser considerada e é bastante semelhante às duas acima referidas, mas com acometimento do tronco e extremidades, áreas essas rarefeitas de pelame e mais expostas à luz solar. Os cães mais predispostos são os brancos, especialmente os Bull Terriers e o Pit Bull. Nesses animais, como forma de prevenção, indica-se o uso de fotoprotetores solares com fatores de proteção (FPS) acima de 30 com reaplicação de no mínimo 12 horas. Também a utilização de roupas com fatores de proteção solar pode ser benéfica. Obviamente esses animais devem ser retirados do sol, especialmente naqueles horários de maior incidência de radiação UV (das 9h às 17h). ( Carcinoma de células escamosas em cães e gatos Revisão de literatura – Vetsapiens)

Existem algumas possibilidades terapêuticas para lesões pré-carcinomatosas ou carcinomatosas, como a crioterapia e a aplicação tópica de imiquimod. (Imiquimod na Dermatologia Veterinária: Revisão de Literatura – Vetsapiens, Modalidades terapêuticas para o tratamento de carcinomas espinocelulares em cães e gatos – Revisão de literatura – Vetsapiens)

Ainda, devemos destacar, maior ocorrência de recidiva de piodermite. A piodermite superficial canina é bastante comum na clínica dermatológica, talvez uma dos principais motivos de busca por atendimento, com ocorrência de 40%, frente às enfermidades dermatológicas. Na maioria das vezes é secundária a outras enfermidades ou condições e é causada pela proliferação do Staphylococcus pseudointermedius, comensal da pele dos cães. A principal enfermidade causadora da piodermite em cães é a dermatite atópica, alergopatia de maior ocorrência, pode ter exacerbação quando os pacientes estão em climas quentes. Ainda, nessa época do ano, existe maior tendência à realização de banhos, muitas vezes utilizando-se de xampus com pHs inadequados, contendo componentes irritativos, que culminarão com alterações importantes na barreira cutânea, propiciando a proliferação e adesão dos Staphylococcus spp ao queratinócito (Diretrizes para o diagnóstico e tratamento de piodermite – Vetsapiens, The role of bacterial skin infections in atopic dermatitis: expert statement and review from the International Eczema Council Skin Infection Group – Vetsapiens, Dermatite atópica em cães e seus diversos tratamentos. (vetsapiens.com)

Devemos estar atentos aos animais que padecem de doenças auto-imunes com reflexo tegumentar, a exemplo do pênfigo foliáceo e o lúpus eritematoso cutâneo crônico. As doenças auto-imunes tendem a piorar com a exposição solar. Por isso é de suma importância que esses pacientes não sejam expostos ao sol, especialmente nos horários de maior incidência de raios UVA e UVB, e se a exposição for inevitável, utilizar protetores solares (Cutaneous lupus erythematosus in dogs: a comprehensive review – Vetsapiens, Lúpus eritematoso cutâneo em cães: uma revisão abrangente – Vetsapiens, Penfigoide bolhoso em cão – Vetsapiens)

As queimaduras pelo calor também são bastante frequentes nessa época do ano, decorrentes de injúria térmica no tecido alvo. A mais comumente vista é a queimadura de coxins e de áreas mais claras expostas ao sol. Podem ser classificas em 1º grau ou superficiais (restritas à epiderme), 2º grau que envolve a epiderme e parte da derme, as de 3º grau que acometem todas as camadas da pele e as de 4º grau com lesão de todas as camadas da pele, musculatura e até parte óssea. A pele dos animais é adaptada a manutenção de sua integridade em temperaturas de 20 a 40oC, contudo como possuem menor vasculatura comparativamente aos humanos, os animais têm maior dificuldade em dissipar calor. Obviamente, a magnitude da queimadura depende da temperatura exposta, tempo de exposição, área acometida e capacidade de dissipação do calor. A avaliação e manejo do animal queimado devem ser cuidadosamente realizados e não subestimados.

 

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