BLOG – Dermatite atópica em cães e seus diversos tratamentos
Por Rita Carmona
Com o avanço da ciência, existem novas opções terapêuticas mais eficazes e seguras.
A dermatite atópica (DA) é uma doença bastante complexa e envolve mecanismos genéticos, fatores ambientais e de microbioma, alterações de barreira cutânea e sensibilização a alérgenos ambientais.
Os principais agentes que desencadeiam a DA em animais são fatores irritantes da pele (xampus inadequados, produtos de limpeza), agentes infecciosos (Staphylococcus spp e/ou Malassezia spp) e alérgenos ambientais (ácaros da poeira doméstica, ácaros de armazenamento, pólens e, raramente, fungos ambientais).
A doença é mais comum em cães de raça, sendo algumas mais predispostas, como Shih tzu, Lhasa apso, Maltês, Yorkshire, Buldogue francês, Golden retriever e Labrador e, em 70% dos casos, os primeiros sinais acontecem entre os dois a três primeiros anos de vida.
Diagnóstico da dermatite atópica
O diagnóstico é essencialmente clínico, com a exclusão de outras enfermidades pruriginosas (escabiose, xerose cutânea, piodermite, malasseziose) e reconhecimento de manifestações clínicas e dermatológicas. O prurido é a manifestação mais importante, e as alterações cutâneas envolvem eritema, descamação cutânea, alterações de espessura cutânea e de infecções cutâneas (bacterianas e/ou fúngicas). Prurido e lesões se localizam, na maioria das vezes, na região da face, cervical ventral, flexuras anticubitais, axilas, região abdominal, inguinal e de interdígitos de membros torácicos e pélvicos.
A conclusão do diagnóstico de DA ocorre após ser descartada a hipótese de dermatite alérgica à picada de ectoparasitas com o uso regular de ectoparasiticidas e depois com a dieta de exclusão (caseira com fontes de proteínas e carboidratos não usuais ou dieta comercial com proteína hidrolisada) por quatro a oito semanas.
Existe tratamento para dermatite atópica?
Sim. O cuidado com os animais portadores de DA tem como base evitar o contato com alérgenos desencadeadores com controle ambiental, a recuperação da função de barreira cutânea com uso de hidratantes e emolientes e tratamento das infecções secundárias. Os corticoides, apesar de seus efeitos adversos, ainda são utilizados para controle dos sinais mais graves de inflamação, enquanto os anti-histamínicos têm utilização limitada devido à sua baixa eficácia.
Com o avanço da ciência no estudo dessa enfermidade, existem opções terapêuticas mais eficazes e seguras. Usada há 15 anos para tratamento da DA humana e canina, a ciclosporina teve sua versão veterinária lançada há dois meses no Brasil e vem mostrando excelente eficácia, com início de efeito após cerca de três a quatro semanas de uso.
Já o oclacitinib, disponível há quatro anos no País, é um inibidor seletivo de JAK, com efeito antipruriginoso e anti-inflamatório. Uma opção promissora é o uso de anticorpo monoclonal anti-IL 31, chamado lokivetmab (nome comercial Cytopoint), que está sendo bastante eficaz e seguro no controle da enfermidade em cães.
Imunoterapia e dermatite atópica
Já em uso há muitos anos na Medicina Veterinária, a imunoterapia alérgeno-específica pode ser utilizada como forma de controle das manifestações de DA. Costumamos indicá-la especialmente em pacientes jovens com o diagnóstico já confirmado da doença. Ela deve ser realizada após testes alérgicos (sorológico, teste intradérmico ou de punctura) e escolha de alérgenos sensibilizantes que estejam associados à manifestação ou piora do quadro.
A administração dos alérgenos deve ser realizada com frequência e em doses progressivas, por via subcutânea ou sublingual, em período mínimo de três a cinco anos. A terapia começa na fase de indução, quando as administrações são mais frequentes e em doses progressivas, até atingir a dose terapêutica eficaz, quando a fase de manutenção é iniciada. Durante essa fase, a dose é mantida a intervalos maiores de administração, normalmente mensais.
Muitos pacientes necessitarão da dose de manutenção por toda a vida. Não há contraindicação, exceto se ocorrer efeito adverso grave durante o tratamento. Apesar de não ter nada referido pela comunidade científica, o início de imunoterapia em gestantes deve ser ponderado pelo médico veterinário.
Mas qual é o melhor tratamento?
Não existe o tratamento mais eficaz, uma vez que a resposta é individual. Todas as terapias podem desencadear efeitos adversos, a despeito de apresentarem muita segurança. O médico veterinário deve estar apto a entender a complexidade da doença e sua etiopatogenia e, em muitos casos, deve-se mudar a conduta terapêutica.
Hoje, com medicamentos mais modernos e menor potencial de desencadeamento de efeitos adversos, uso de hidrantes cutâneos e até imunoterapia com alérgenos, podemos aliar eficácia, melhora da qualidade de vida e segurança para o tratamento de cães portadores de dermatite atópica.
Nós, do Vetsapiens, ressaltamos que o tratamento deve ser mantido por toda a vida e que o acompanhamento veterinário é essencial para o melhor controle do paciente e monitoramento de possíveis efeitos adversos.