Blog – Você pensa em Leptospirose nos seus diagnósticos diferenciais?
Muitas vezes nos deparamos com casos em que nosso paciente canino está apresentando sintomas relacionados a insuficiência renal ou hepática aguda, sem ter passado pela nossa cabeça a possibilidade de estarmos diante de uma importante zoonose, a leptospirose.
Os sintomas iniciais da leptospirose em cães são bem inespecíficos, como anorexia, prostração e febre e muitos pacientes chegam em nossa clínica neste estágio.
Uma boa anamnese nestes casos se torna ainda mais fundamental, pois somente com o histórico detalhado do animal podemos começar a pensar em exames diagnósticos mais específicos e consistentes.
Importante perguntar sobre o local onde o animal vive (casa, sítio, apto etc.), se pode ter contato com roedores, se tem hábitos de caça, se teve contato com água parada após inundações e enchentes, o que o animal come e principalmente seu status vacinal.
Muitos animais chegam à clínica mais tardiamente, com sintomas agudos um pouco mais específicos como febre alta (> 40°C), êmese, letargia intensa, fraqueza muscular, tremores, desidratação, taquipnéia, pulso irregular e até em choque.
Devido aos distúrbios de coagulação e a trombocitopenia, em alguns animais podemos observar petéquias, epistaxe, sufusões, hematêmese, melena e hematoquesia.
Dependendo do sorovar envolvido, podemos encontrar graves lesões renais (Leptospira interrogans sorovar Canicola) havendo poliúria, polidipsia, emese e desidratação ou graves lesões hepáticas (Leptospira interrogans sorovar Icterohaemorrhagiae), e neste caso teremos icterícia de moderada e a grave, causada pela lesão hepatocelular e por colestase intra-hepática.
No rim a leptospira provoca vasculite e edema, diminuindo a taxa de filtração glomerular causando injúria renal aguda.
Em casos avançados da doença podemos detectar dor abdominal, estomatites/gastrites graves, necrose de língua e quando há comprometimento pulmonar ainda podemos ver quadros de hemorragia pulmonar intensa, levando a um prognóstico mais reservado.
Ainda existem relatos de animais que desenvolvem conjuntivites, uveíte e injeção escleral devido a ação das leptospiras no globo ocular.
É sempre importante lembrar que alguns animais desenvolvem um quadro de infecção crônica, mantendo-se assintomáticos por um bom tempo, até desenvolverem sinais compatíveis com doença renal crônica.
E vale notar que animais jovens, não vacinados, apresentam os quadros mais graves da doença quando comparados aos animais adultos.
Portanto diante de qualquer um desses sinais clínicos, e diante de um histórico que possa ser compatível com uma infecção por leptospira, incluir em seu protocolo diagnóstico exames para confirmar ou excluir a infecção por leptospirose em cães.
Visto que quanto mais rápido o diagnóstico, maiores são as chances de tratamento e melhor o prognóstico.
Se após a anamnese e exame clínico você DESCONFIAR de Leptospirose, SOLICITE:
HEMOGRAMA – fase inicial da leptospiremia discreta leucopenia seguida de leucocitose com ou sem desvio à esquerda e trombocitopenia é intensa na fase aguda da infecção.
BIOQUÍMICA:
- Diferentes graus de azotemia podem aparecer;
- hipoalbuminemia na fase aguda;
- aumento do número de globulinas;
- hipercalemia, hiponatremia, hipocloremia e hiperfosfatemia;
- alterações na concentração de bicarbonato;
- diminuição do pH sanguíneo;
- elevações em ALT, AST e fosfatase alcalina;
- aumento nas concentrações séricas de bilirrubina direta devido a colestase hepática;
- urinálise – glicosúria devido a lesão tubular;
- bilirrubinemia;
- proteinúria associada a lesão tubular por nefrite túbulo-intersticial;
- cilindros granulares no exame de sedimento urinário;
- coagulograma;
- hiper ou hipo coagulabilidade.
EXAMES DE IMAGEM
Rx – hemorragia pulmonar
Ultrassom abdominal – renomegalia, pielectasia, hepatomegalia, fluído perirrenal e alterações de parênquima renal.
Testes diagnósticos específicos para Leptospirose
TESTE DE SOROAGLUTINAÇÃO MICROSCÓPICA (SAM)
Detecta anticorpos aglutinantes frente a leptospiras vivas. Esse teste é específico do sorogrupo e não para os sorovares, sendo assim o resultado de SAM indica o sorogrupo em qual o sorovar está inserido e não indica o sorovar específico.
Se o agente pertencer a outro sorogrupo que não os incluídos no teste, este pode ser negativo (falso-negativo).
Importante, cães vacinados podem apresentar títulos altos e serem confundidos com doença clínica, deve-se aguardar se possível 4 meses após a vacinação para que não ocorra um falso-positivo, e testes pareados devem ser realizados a fim de avaliar o aumento ou diminuição de 4 vezes do título inicial para confirmação do teste.
TESTE DE ELISA
Detectam IgM e IgG anti leptospira, estes trazem bons resultados para que consigamos distinguir a resposta vacinal de infecção recente.
PCR
Detecta DNA da bactéria, e serve como monitoramento de animais assintomáticos e portadores crônicos, e podem indicar infecção ativa de forma mais precoce a detecção realizada pelo SAM.
Realizar o exame de amostras de sangue e urina simultaneamente, pois nem sempre a fase da infecção é conhecida.
Lembre-se! Diante de qualquer caso de injúria renal ou hepática aguda, pense na possibilidade de ser Leptospirose.
Faça se possível exames específicos, ou pelo menos tire o paciente através dos exames de função renal, função hepática, hemograma e diante de alterações indicativas, faça o teste de PCR ou SAM.
Quanto mais cedo se iniciar o tratamento com antibióticos, mas evitamos as complicações causadas pela leptospiremia, ou seja, o comprometimento dos tecidos pulmonares, hepáticos e renal.
O tratamento de escolha é a Doxiciclina, pois essa droga promove rápida eliminação das leptospiras dos rins, além de todo tratamento de suporte.
E a prevenção da leptospirose em cães e gatos envolve a vacinação dos animais com vacinas inativadas, a partir dos 9 meses e com 3 doses quando filhotes e reforços anuais ou semestrais dependendo do desafio ambiental em que se encontra o animal.
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