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Pesquisadores revelam nova classificação dos gatos-palheiros

12 de julho de 2020
Noticia-Pesquisadores revelam novas

Após 14 anos de estudos, cientistas divulgam quais são as espécies que representam este grupo misterioso de felinos.

Por Ananda Porto, Terra da Gente 

O gato-palheiro, também chamado de gato-dos-pampas, é considerado uma das espécies de felinos mais raras e pouco conhecidas, tanto pela população como para a ciência.

Este animal solitário, de porte médio, que atinge até 70 centímetros de comprimento e 35 centímetros de altura, se alimenta de pequenos vertebrados. Ele sempre foi um mistério a ser estudado, principalmente pelo alto grau de dificuldade de ser encontrado na natureza.

No meio científico, o gato-palheiro já foi tema de diversas polêmicas a respeito das possíveis espécies ou subespécies que poderiam existir. Até então o que era considerado sobre este felino é que haveria apenas uma única espécie desse animal, porém ela se dividia em sete subespécies distintas. Mas a realidade agora é outra.

Leopardus braccatus é uma das espécies que ocorre no Brasil — Foto: Fabio Nascimento e Anderson Feijó; arte Roy Baethe /Divulgação artigo

Leopardus braccatus é uma das espécies que ocorre no Brasil — Foto: Fabio Nascimento e Anderson Feijó; arte Roy Baethe /Divulgação artigo

Recentemente foi publicado no Zoological Journal of Linnean Society o estudo mais completo sobre este grupo misterioso. A pesquisa, além de trazer descobertas, vai causar uma grande revolução para os estudiosos desse assunto. A principal revelação é que não existe uma única espécie, mas cinco espécies diferentes de gato-palheiro no território sul-americano. Estes se distribuem pelo Brasil, Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia, Peru e Equador.

Para chegar a esta grande descoberta dois pesquisadores brasileiros se dedicaram por 14 anos em pesquisar e estudar este gato selvagem. Nessa longa e árdua trajetória, a dupla viajou para o exterior, analisou peças de coleções em museus e estudou detalhadamente características morfológicas, incluindo, dentição, crânio e pelagem dos animais.

“Podemos dizer que ‘reorganizamos a casa’. Antes vários esquemas taxonômicos diferentes foram propostos. Nosso trabalho é o mais amplo em número de espécimes estudados ao longo de toda a distribuição geográfica. É o mais robusto graças às múltiplas linhas de evidências derivadas de conjuntos de dados morfológicos, moleculares, biogeográficos e de nicho climático”, afirma o biólogo Fábio Oliveira Nascimento, pesquisador da descoberta.

Ilustração, pelagem e fotos do crânio do Leopardus pajeros — Foto: Pablo Teta e Sergio Lucero; arte Roy Baethe/ Divulgação artigo

Ilustração, pelagem e fotos do crânio do Leopardus pajeros — Foto: Pablo Teta e Sergio Lucero; arte Roy Baethe/ Divulgação artigo

Ao longo dos anos, os pesquisadores visitaram 19 museus em nove países diferentes e foram muitos os desafios enfrentados para que eles pudessem esclarecer todos os enigmas sobre esse grupo de felinos.

“Só encontramos 142 indivíduos de gato-palheiro nesses museus. Essa baixa disponibilidade de material tornou os estudos com o grupo um grande desafio. Como consequência, muitas classificações anteriores foram baseadas em amostras limitadas, muitas vezes restritas há uma pequena área geográfica. Devido a essa raridade, os cientistas dos séculos XIX e XX não possuíam um entendimento amplo das características dos gatos-palheiros. Para resolver alguns dos conflitos anteriores foi muito importante que nós analisássemos animais distribuídos ao longo de toda a área de ocorrência do grupo”, acrescenta o biólogo Anderson Feijó, um dos autores da nova classificação.

Os cientistas brasileiros tiveram o apoio do governo para realizar as viagens da pesquisa. Na etapa final eles contaram ainda com a participação de um pesquisador chinês.

Características morfológicas foram analisadas pelos pesquisadores — Foto: Divulgação artigo

Características morfológicas foram analisadas pelos pesquisadores — Foto: Divulgação artigo

Divulgar essa nova classificação de um grupo raro e que tem uma distribuição ampla é uma grande responsabilidade para o time envolvido.

“A divisão de uma espécie em cinco afeta todos os pesquisadores que trabalham com os gatos-palheiros, seja em campo, em zoológicos ou em laboratórios. Sabemos que há cinco espécies diferentes e podemos esperar que cada um tenha particularidades. O próximo desafio é, portanto, entender quais são essas diferenças na biologia de cada espécie, esse é o primeiro passo aliás, para avaliarmos o status de conservação atual dos gatos-palheiros”, explica Anderson.

No nosso país podem ser encontradas duas espécies: o Leopardus braccatus, que ocorre no Cerrado e o Leopardus munoai, que se distribui pelo Pampas, quase na divisa com o Uruguai.

Gato-palheiro é difícil de ser encontrado na natureza; câmera flagrou indivíduo melânico na fazenda Trijunção — Foto: Projeto Onçafari

Gato-palheiro é difícil de ser encontrado na natureza; câmera flagrou indivíduo melânico na fazenda Trijunção — Foto: Projeto Onçafari

A descoberta da nova classificação deste grupo implica que sejam feitas novas pesquisas sobre esses animais, inclusive para estimar a população de cada um desses felinos.

“No Brasil eles são encontrados em dois biomas que sofrem grande influência antrópica, o Cerrado e o Pampa, com muitas áreas degradadas e destinadas à produção agropecuária. É muito provável que a situação delas não seja a das melhores. É difícil saber a estimativa de indivíduos, pois são encontrados com pouca frequência. São necessários estudos sobre isso para termos uma real dimensão sobre as duas espécies brasileiras.”, comenta Fábio.

Os pesquisadores celebram o resultado de tantos anos de estudos e a expectativa é que a descoberta desperte ainda novos olhares e esforços para a preservação das espécies.

“Cada classificação nova ou descrição de novas espécies são lembretes de que há ainda muito a se descobrir na natureza. Ao mesmo tempo, representa um alerta de que precisamos unir forças para preservar o máximo possível dos ambientes naturais que ainda nos restam. Nós brasileiros carregamos uma grande responsabilidade, uma vez que possuímos uma das faunas e floras mais ricas do mundo. Minha esperança é que o nosso trabalho e essa divulgação em relação aos gatos-palheiros os tornem mais conhecidos dos cientistas e do público e que isso ajude na sua preservação”, finaliza Anderson Feijó.

Fonte:https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2020/07/06/pesquisadores-revelam-nova-classificacao-dos-gatos-palheiros.ghtml

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