Pesquisadores desenvolvem escala para avaliar dor em ovelhas

A ferramenta é simples e traz importante apelo para o bem-estar desses animais.
Pesquisadores da Unesp de Botucatu coordenados pelo médico veterinário Stelio Pacca Loureiro Luna, docente da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), recentemente publicaram um artigo na revista Plos One que traz uma escala validada para avaliação de dor em ovinos. Essa escala é baseada nas alterações comportamentais que esses animais demonstram quando sentem dor e pode ser facilmente utilizada a partir da observação visual. O estudo, que recebeu apoio da Fapesp, reforça a importância das considerações de bem-estar em ovelhas, que frequentemente são submetidas a procedimentos dolorosos.
A pesquisa tem destaque na área, pois embora já existam outras escalas para avaliar dor em ovelhas, é a primeira vez que há uma forte validação estatística. “Na literatura já existem escalas para avaliar dor em cordeiros submetidos à castração e ao corte de cauda, além de estudos mais recentes sobre expressão facial, mas a nossa escala é pioneira por ter sido elaborada a partir de um avaliação minuciosa do comportamento de animais adultos e também validada com análise estatística robusta”, comenta Nuno Figueiredo Silva, doutorando que é autor do artigo. Segundo Stelio, todos os outros métodos já existentes para avaliar dor em ovinos são apenas experimentais, não sendo aplicáveis em situações de produção.
Por ser baseada em comportamentos, a escala é simples e fácil de ser usada. “Não precisa de equipamento ou contenção das ovelhas, de forma que não gera estresse para os animais e não tem custo”, pontua Stelio. Entretanto, não foi fácil desenvolver a pesquisa, já que as ovelhas expressam menos comportamentos associados à dor que outros animais. “Ovinos operados não lambem a ferida cirúrgica e, comparados com outros ruminantes como bovinos e caprinos, ovelhas com dor não vocalizam”, destaca Nuno. Outra dificuldade foi definir os comportamentos alterados pela dor. “Foram muitas horas de filmagem seguidas de um trabalho extenuante de avaliação de cada comportamento, além de toda análise estatística”, lembra o docente.
Segundo Stelio, como a escala define uma pontuação limite que indica a necessidade de intervenção analgésica, isso deve ajudar a melhorar o tratamento da dor nesses animais de forma objetiva. Assim, os resultados do estudo trazem um importante apelo para considerações de bem-estar em ovelhas, que são animais frequentemente expostos a procedimentos dolorosos. “Os ovinos são submetidos à castração, corte da cauda, remoção da lã e marcação na orelha sem a utilização devida de anestesia ou analgesia”, lembra Nuno.
Além de serem animais de produção, as ovelhas são importantes modelos experimentais para pesquisas em humanos, o que reforça a necessidade de melhorar a qualidade de vida desses animais. “Depois dos suínos, os ovinos são a espécie mais utilizada como modelo pré-clínico para investigações científicas em humanos”, destaca Nuno. “Só para se ter uma ideia, 60 mil ovelhas foram usadas para pesquisas científicas na União Europeia em 2014, e elas representam a segunda espécie mais usada para fins de ensino, estando à frente inclusive dos cães”, finaliza Stelio.