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Enfermidades dermatológicas causadas por fungos em animais

15 de junho de 2023

Por M.V MSc. Rita Carmona

Há uma série de enfermidades provenientes de fungos em animais, causadas por diversos gêneros e espécies infectando a pele, pelos, unhas, garras e cascos, pulmões e até mesmo o sistema nervoso central. Acometem os caninos, felinos, equídeos, bovinos e pequenos ruminantes.

 

O diagnóstico baseia-se nos achados de anamnese, do exame físico, e através de exames complementares como o exame direto,o exame citofungoscópico, cultura fúngica, testes sorológicos e moleculares.

 

Quais doenças tegumentares são causadas por fungos em animais?

 

As dermatopatias causadas por fungos em animais são frequentes na rotina da clínica e, em algumas ocasiões, podem ser um desafio para o médico veterinário.

 

Dentre elas, destacam-se:

  • Dermatofitose
  • Malasseziose
  • Esporotricose

Dermatofitose

 

A dermatofitose é uma micose superficial causada por um grupo de fungos chamados dermatófitos.

 

As espécies mais importantes são o Microsporum canis, agente etiológico de maior frequência, seguido do Microsporum gypseum e pelo Trichophytom mentagrophytes.

 

Vale ressaltar que a dermatofitose é uma zoonose e tem ocorrência de transmissão que pode chegar a 80% dependendo da região geográfica.

 

Quanto ao quadro clínico-dermatológico, pode ser classificado em localizado, disseminada e multifocais.

 

As lesões são representadas por: eritema, escamas, crostas associadas à alopecia. O prurido pode estar presente, mas normalmente não é intenso.

Fig 1. Quadro dermatofítico em cão com hipercortisolismo.

 

É mais comum em gatos, animais com menos de 1 ano de idade representam cerca de 70% dos casos. Os Yorkshires e os Persas são mais predispostos, podendo apresentar quadros recidivantes e mais graves.

 

O diagnóstico baseia-se nos achados de anamnese e de exame dermatológico.

 

Os exames complementares são importantes para o estabelecimento do diagnóstico e são eles: Exame direto de pelame, Luz de Wood, Exame citofungoscópico, Cultivo micológico, Exame histopatológico e PCR.

 

Os principais diagnósticos diferenciais são a demodiciose e a foliculite bacteriana.

 

O tratamento baseia-se na aplicação de antifúngicos tópicos, especialmente na forma de banhos e na administração de antifúngicos sistêmicos. O prognóstico é bom na maior parte dos casos.

Malasseziose

 

Uma micose de superfície bastante frequente dentre os cães, especialmente os alérgicos ou com seborreia, mais rara em gatos.

 

É causada por uma levedura lipodependente, a Malassezia pachydermatis. As espécies  Malassezia sympodialis, M. furfur, M. obtusa e globosa também, apesar de mais raras, podem ser causadoras de quadro cutâneo e otológico em animais.

 

A Malassezia é um habitante normal da microbiota dos cães e gatos, então é fundamental que existam fatores predisponentes que promovam seu crescimento e consequente quadro clínico-dermatológico.

 

As principais causas de base são: doenças alérgicas, seborreia e disqueratose e piodermite.

 

Apesar de raro, pode haver transmissão zoonótica especialmente em humanos imunocomprometidos.

 

Existe uma predisposição racial sendo as raças mais acometidas: West Highland White Terrier, Basset Hound, Cocker Spaniel Americano, Shihtzu e Teckel.

 

Não há predisposição etária e tampouco sexual. Nos gatos, apesar de rara, são os Persas, Devon Rex e Sphynx os mais predispostos.

 

As lesões cutâneas caracterizam-se por eritema, lignificação, descamação e hiperpigmentação. O prurido é comumente visto.

 

Fig. 2. Malasseziose cutânea em cão com doença seborréica.

 

O diagnóstico pode ser pressuposto pelos achados ao exame clínico, contudo a confirmação se dá por exame citofungoscópio ou por histopatologia.

 

O tratamento requer aplicação tópica de antifúngicos e/ou banhos terapêuticos anti seborréicos.

 

O prognóstico é bom, devendo-se buscar a causa de base e controlá-la.

Esporotricose

 

Essa é a doença causada por fungos mais importante na atualidade brasileira. É uma micose subcutânea ou “micose de implantação”.

 

O Sporothrix brasiliensis é a espécie mais prevalente em todo o território nacional, dotada de maior virulência, maior poder de infectibilidade e transmissão.

 

Hoje é considerada a principal dermatozoonose no Brasil, causando casos bastante graves não só em gatos, mas nos seres humanos e também nos cães.

 

Os felinos são aqueles mais predispostos, e podem adquirir e transmitir a esporotricose através de arranhadura, mordedura e com o maior potencial patogênico do S. brasiliensis, a transmissão por contato direto tem sido relatada, inclusive para o homem.

 

O quadro dermatológico caracteriza-se por lesões sólidas (nódulos, tumores e goma), úlceras e erosões, fístulas drenando exsudato piossanguinolento e crostas hemorrágicas. O quadro é bastante doloroso.

 

Ainda, pode ter acometimento de pulmões, rins, testículos, articulações e ossos.

Fig. 3. Esporotricose nasal em gato com lesões erodo-ulcerativas recobertas por crostas hemorrágicas.

 

 

Fig 4. Lesão nasal em cão com esporotricose.

 

A enfermidade deve ser incluída no diagnóstico diferencial de lesões erodo- ulcerativas em felinos, pois é a micose profunda mais comum nessa espécie.

 

O diagnóstico deve ser estabelecido por exame citofungoscópico, de histopatologia, cultivo fúngico e por provas sorológicas.

 

O tratamento pode ser bastante desafiador e deve ser instituída terapia sistêmica com antifúngicos por longos períodos. Na grande parte das vezes existe a necessidade de associação terapêutica.

 

Destacamos que muitas das enfermidades causadas por fungos em animais, existe a transmissão para o homem, especialmente aqueles imunossuprimidos.

 

Devendo o médico veterinário estar apto a realizar o diagnóstico e tratamento para evitar a transmissão e disseminação dessas enfermidades tão comuns em nosso país.

 

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