Demanda por anestésicos para pacientes com Covid faz veterinários adiarem cirurgias em pets; antirrábica está em falta - Vetsapiens

Demanda por anestésicos para pacientes com Covid faz veterinários adiarem cirurgias em pets; antirrábica está em falta

15 de maio de 2021
Noticia- demanda por anestesicos

Anestésicos usados para intubação de humanos são os mesmos utilizados em cirurgias de pets, e procedimentos eletivos foram suspensos em diversas clínicas de SP. Conselho Regional de Medicina Veterinária diz que fornecimento de vacina contra a raiva também foi afetado, e animais estão com a imunização vencida e atraso pode ter impactos negativos no controle da doença.

Por Marina Pinhoni e Patrícia Figueiredo, G1 SP

O aumento na demanda por medicamentos anestésicos, especialmente aqueles usados no kit intubação para tratar pacientes com Covid-19, afetou a realização de cirurgias em animais de estimação em São Paulo. O fornecimento de vacinas contra a raiva de diversas marcas também foi afetado, e a antirrábica está em falta em diversas clínicas na capital.

O Centro Veterinário Seres, marca do Grupo Petz, que tem 117 unidades em todo o país, suspendeu a realização de cirurgias eletivas em todas suas clínicas e hospitais. Veterinários independentes também relataram que procedimentos cirúrgicos foram adiados por conta da escassez de medicamentos.

Segundo o presidente da comissão de clínicos de pequenos animais do Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo (CRMV-SP), Marcio Mota, o abastecimento de clínicas veterinárias passou por um período “muito crítico” entre março e abril, no pico da epidemia no estado.

“Naquele momento mais crítico da pandemia chegamos a ter relato de falta ou limite na distribuidora. Hoje, acha mais facilmente, tem uma distribuição, mas o preço está lá em cima. […] há uma grande dificuldade de adquirir alguns anestésicos”, diz.

O representante do CRMV ressalta que houve um aumento no preço dos insumos, especialmente aqueles usados no kit intubação, como o Propofol, cuja escassez também foi relatada em hospitais para Covid-19 em março.

“O Propofol, por exemplo, as clínicas antes compravam uma caixa por R$ 100. Hoje, a indústria vende a mesma caixa com cinco ampolas por R$ 1 mil”, afirma Marcio Mota.

 

Caixas de medicamentos do kit intubação, necessários no tratamento de pacientes com Covid-19, em um hospital de São Paulo em abril — Foto: ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
Caixas de medicamentos do kit intubação, necessários no tratamento de pacientes com Covid-19, em um hospital de São Paulo em abril — Foto: ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Não há, no entanto, uma orientação do CRMV para que as cirurgias sejam suspensas.

“A posição oficial do conselho é para que os veterinários tenham bom senso de analisar a questão dos insumos sem prejudicar o bem-estar animal. Se isso não vai atrapalhar a saúde do animal, tudo bem. Mas se a parada de cirurgia for prejudicial, pode haver punição.”

Segundo Vanessa Nishimoto, veterinária na Zona Leste de São Paulo, as cirurgias eletivas ficaram paradas por diversas semanas no pico da pandemia por conta da falta de remédios anestésicos, como Propofol, Azelan e Fentanil.

“Quando eram procedimentos mais simples, a gente optou por remarcar, jogar pra frente. A cirurgia que a gente manteve foi, por exemplo, de animal que chega atropelado, coisa que não tem como aguardar mesmo”, explica.

Veterinário na Zona Sul de São Paulo, Tarcísio de Barros Aranha também relatou dificuldade para adquirir uma série de medicamentos usados em cirurgias, além da vacina antirrábica. Em diálogos por WhatsApp, diversos fornecedores lhe confirmaram que os produtos estão em falta.

Um dos pets que ele atende em seu consultório, o gato Terêncio, de 4 meses, teve a cirurgia de castração e a vacinação contra raiva adiadas por conta da falta de insumos.

Gato Terêncio , também conhecido como MC Fioti, em homenagem ao autor da música Bum bum tan tan, teve a vacinação contra a raiva adiada por conta da escassez da vacina antirrábica em São Paulo — Foto: Arquivo pessoal
Gato Terêncio , também conhecido como MC Fioti, em homenagem ao autor da música Bum bum tan tan, teve a vacinação contra a raiva adiada por conta da escassez da vacina antirrábica em São Paulo — Foto: Arquivo pessoal

Cirurgias suspensas ou mais caras

A médica veterinária Vanessa Nishimoto conta que, desde o início de maio, os remédios voltaram ao estoque das distribuidoras, mas a preços muito mais altos, o que deixou as cirurgias eletivas mais caras. Por conta disso, muitos donos de pets não puderem arcar com os novos custos.

“Como teve aumento do custo dessas medicações no mercado, a gente está pagando o triplo do valor e teve que repassar isso pro cliente. Por conta disso, muitos estão desmarcando e desistindo de cirurgias de castração por causa do valor”, conta.

Nas unidades do Centro Veterinário Seres, ligado à rede Petz, as cirurgias eletivas foram suspensas, e apenas “atendimentos clínicos ou cirúrgicos e exames nos serviços de urgência e emergência” estão liberados.

Na rede, cerca de 40% das cirurgias são eletivas e, destas, quase 80% são castrações. Em nota, a empresa afirma que o adiamento das castrações não compromete a saúde dos pets.

“Nós estamos postergando de um a dois meses essas cirurgias, tempo que não compromete a saúde e o bem-estar do animal. Vale frisar que esses pets são domiciliados, o que não causa um descontrole de nascimentos de animais que podem ser abandonados no futuro”, diz a Petz em nota.

No entanto, para a veterinária Vanessa Nishimoto, o adiamento da castração pode trazer problemas de saúde para os cachorros, especialmente às fêmeas.

“Até dá pra esperar para castrar, mas quanto mais você espera, mais predisposto o animal fica a ter outras doenças. Um exemplo é uma infecção que dá no útero do animal, das fêmeas, a chamada piometra. É uma doença grave, e muito comum em cadelas não castradas”, afirma.

Labrador Pingo aguarda há dois meses para receber a vacina antirrábica, que está em falta no estado de São Paulo — Foto: Arquivo pessoal
Labrador Pingo aguarda há dois meses para receber a vacina antirrábica, que está em falta no estado de São Paulo — Foto: Arquivo pessoal

Vacina antirrábica

Além da suspensão e adiamento de cirurgias eletivas, a falta de insumos também está causando atrasos na vacinação contra a raiva de cães e gatos em São Paulo.

O Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo (CRMV-SP) afirma que clínicas de algumas regiões de São Paulo, como o ABC, estão com grande dificuldade de encontrar o produto.

Márcio Mota, representante do CRMV-SP, explica que a maior parte das vacinas antirrábicas é importada, mas que mesmo os produtos de origem nacional estão em falta. Ele explica que os motivos para a escassez não foram divulgados pelos laboratórios.

Apesar disso, o CRMV-SP estima que o fornecimento deve ser normalizado em até um mês.

“Alguns falam que é dificuldade de aduana, alguns relatam que é atraso dos Estados Unidos e Europa em mandar os produtos importados. Pode ser uma questão comercial de governos, alguns falam de demora de liberação no porto de Santos também. Mas a gente tem agora uma dificuldade de adquirir a vacina nacional da raiva também, e sem nenhuma justificativa ainda. Mandamos nota para os laboratórios nacionais, mas ainda não obtivemos resposta”, explica Marcio Mota.

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