Cães terapeutas acalmam passageiros em aeroporto nos EUA
08/02/2020 – 12h43min
LOS ANGELES, EUA (FOLHAPRESS) – “Quem está roncando?” Mal chegou ao escritório, Chubs dorme sentada na cadeira. Ao seu lado, Dewey descansa de olhos fechados e Ellie se esparrama pelo chão.
“É o único emprego do mundo onde não tem problema tirar uma soneca”, brinca Heidi Huebner, numa sala do aeroporto internacional de Los Angeles, conhecido como LAX.
Chubs é uma pug não muito fã de caminhadas. Dewey, uma mistura de chihuahua com terrier que adora ficar nos braços da dona. E Ellie é uma golden retriever que, ao menor sinal de um carinho, vira logo de barriga para cima.
Os três fazem parte de uma equipe de 116 cachorros certificados e treinados como animais de terapia. Diariamente, cerca de 10 passeiam com seus donos pelos terminais do LAX. A missão parece impossível, mas eles agem com tranquilidade: desestressar os mais de 87 milhões de passageiros que circulam anualmente pelo aeroporto, o segundo mais movimentado do país.
“Às vezes não sabemos na hora o efeito que os cães têm nas pessoas, mas recebo muitos emails de ‘Ah, eles mudaram meu dia!'”, diz Huebner, diretora do programa de voluntários do LAX e criadora do PUP, sigla em inglês para “pets desestressando passageiros”.
A ideia surgiu no aeroporto californiano de San José após o 11 de Setembro, para ajudar passageiros traumatizados. Huebner, que trabalhou por mais de 30 anos em abrigos de animais, levou o projeto para o LAX em 2013, com 20 cães.
Hoje, seu programa é o maior do mundo. Ela, que é dona de Chubs, criou um protocolo e ajudou a implementar a iniciativa em dezenas de terminais da América do Norte.
Os donos dos animais são voluntários e trabalham duas horas por semana, sempre com a camiseta vermelha do programa. Todos passam por verificação de antecedentes criminais e ganham crachá oficial do LAX.
Numa manhã nublada, a reportagem acompanhou cinco cachorros. A chegada é digna de cinema: as portas automáticas se abrem, e os cães entram juntos, graciosos com seus coletes. Estão sempre na coleira, com seu donos atrás. Os passageiros se voltam para os animais, há um pequeno silêncio de dúvida, e logo vem um uníssono “ahhhhhhh”.
O labrador Gyser é o primeiro a receber atenção. Uma americana de 81 anos, que acabou de chegar de Phoenix com o marido, se aproxima na cadeira de rodas. “Isso faz um bem enorme às pessoas”, diz, acariciando a cachorra.
Huebner lidera a turma puxando Chubs, que vai em um carrinho. Em três horas, não se ouve um latido sequer. Ninguém pula em cima de ninguém, não há necessidades fora do lugar. Os animais parecem até entender a hora de tirar selfies com passageiros.
Ao nota olhares curiosos, a diretora chama: “Quer dar um alô ou fazer um carinho? Eles estão aqui para isso”.
No salão do embarque, após atravessar uma porta secreta evitando inspeções de segurança, Chubs distrai uma família que está indo para Austin depois de visitar a Disneylândia. Ao lado dos filhos de 3, 7, 12 e 16 anos, Crystal Figgins, 35, afirma: “Gostei, os cães acalmaram as crianças. Elas estavam bem entediadas”.
O treinador Ambrose Charles, responsável pelos cães farejadores do LAX, traz sua labradora Sally para observar de longe os cachorros do PUP; ela tem um colete que diz “não me toque”. Mais tarde, Charles volta sozinho para brincar com os animais. “Eles são tão amigáveis. Está tudo em seus olhos, são tão tranquilizantes.”
De fato, estudos mostram que animais de terapia têm o poder de baixar a pressão sanguínea e os níveis de ansiedade de seus acompanhantes. Só nos EUA, há mais de 50 mil cães terapeutas que frequentam hospitais, casas de asilo e programas como o PUP.
Para conseguir um emprego no LAX, os cachorros levam currículo. Precisam ter ao menos dois anos de idade e um de experiência em organizações de terapia de cães, além de registro em uma entidade que dá seguro para os animais e seus donos.
Nadine Lederfine, dona de Dewey, é testadora profissional de cachorros de terapia, e já avaliou cerca de 125. “Cães terapeutas têm paz interior; entram e já acalmam o lugar.”
Para quem tem medo de cachorro, pode ser difícil de acreditar, ainda mais quando aparece um pit bull -a elegante Cali, que adora um carinho na barriga e tem as unhas pintadas de rosa.
Ela tem oito anos e foi resgatada de um abrigo. Tamanha serenidade lhe valeu o título de embaixadora de pit bulls, uma raça pouco conhecida pela afabilidade. Cali está no programa há quatro anos, junto com outros sete pit bulls e dois rottweilers.
Huebner avisa que no programa não tem espaço para preconceito de raça. “É sobre temperamento e personalidade do cachorro”, diz. “O que eles podem fazer e se querem fazer.”