Você sabe quais são as afecções mais comuns que acometem o pavilhão auricular de cães e gatos?
O pavilhão auricular, também chamado de pina, de cães e gatos podem ser acometidos por muitas doenças dermatológicas, com causas diversas, como doenças infecciosas, ectoparasitárias, imunomediadas, neoplásicas, desordens de queratinização, traumas e até distúrbios de coagulação. Todas estas alterações devem ser consideradas como potenciais causas nas afecções nos pavilhões auriculares.
Otohematoma
Otohematoma ou hematoma auricular é uma afecção comum que acomete os pavilhões auriculares de cães e consiste na formação de uma coleção de sangue entre a cartilagem auricular e a pele. O Otohematoma tem várias causas e geralmente esta relacionado a traumas decorrentes de prurido e/ou severa agitação da cabeça (meneios cefálicos) em cães acometidos por otite externa, doenças parasitarias (sarnas) e alergopatias.
Mas também pode ser secundário a traumas causado por brigas entre cães e ou associados a distúrbios da coagulação. O diagnóstico é baseado na história clínica e anamnese, contudo alguns exames podem ser necessários para melhor elucidação do quadro a exemplo da citologia de condutos auditivos, exame parasitológico quando da suspeita de doença parasitária e mesmo, em raros casos, a realização de cultura e antibiograma para condução terapêutica de casos de otite bacteriana.
Para tratar existem algumas estratégias onde se realiza a drenagem do sangue através de punção com auxilio de uma seringa, seguida por compressão da pina (método utilizado no inicio do quadro quando há pequena coleção de sangue) ou incisão cirúrgica na face interna da pina em forma de “S” ou em pequenas incisões espalhadas ao logo da pina.
Mas nem sempre a técnica escolhida apresenta resultados satisfatórios devido a alterações na coagulação, dificuldades no pós operatório, diferentes tipos de cicatrização, causa de base etc, levando a falhas e recidivas. Como alternativa aos procedimentos cirúrgicos pode ser realizado tratamento medicamentoso com aplicação de corticosteróides.
Figura 1 – Cão com otohematoma
Vasculite
A vasculite nada mais é que uma reação histopatológica que sinaliza a presença de células inflamatórias nos vasos sanguíneos e é uma resposta imunológica (isto é, distúrbio de hipersensibilidade tipo III) que resulta em danos aos componentes vasculares da derme ou do tecido subcutâneo, afetando mais comumente as margens da pina e seus sinais clínicos podem incluir alopecia, descamação, erosão, ulceração, crostas e necrose.
Em alguns casos, se a perda de tecido for mais severa pode causar até alterações na forma das orelhas. Para fecharmos o diagnóstico de vasculite devemos fazer um histopatológico da região afetada e tentarmos descobrir a causa, que pode ser uso de drogas, reações vacinais (vacina antirrábica), hipersensibilidade alimentar, picadas de insetos, doenças infecciosas como Leishmaniose, e até casos idiopáticos.
Figura 2 – Necrose trombo-vascular da margem da pina, com perda de tecido, alterando a forma da pina.
O tratamento depende da gravidade do quadro e se sua causa. Se for algo infeccioso deve ser tratado e em alguns casos pode se utilizar medicamentos imunomoduladores. A pentoxifilina demonstrou aumentar a flexibilidade dos eritrócitos, diminuindo a viscosidade do sangue, e aumentando da oxigenação do tecido danificado.
Alguns paciente necessitam de drogas imunossupressores como glicocorticóides, ciclosporina, azatioprina. Outras formas graves de vasculite, como a “necrose trombovascular do pavilhão auricular” podem não responder a nenhuma medicação e necessitam de intervenção cirúrgica, com a remoção do tecido comprometido.
Cistoadenomatose Ceruminosa em Felinos
A cistoadenomatose ceruminosa é uma doença que acomete as orelhas côncavas, orifícios externos e/ou, ocasionalmente, os canais auditivos de gatos.
A causa da cistoadenomatose ceruminosa é desconhecida; mas pode estar relacionada a otite externa.
As lesões típicas incluem máculas, pápulas e/ou vesículas e são multifocais a coalescentes, de coloração cinza-azuladas e preenchidas com um líquido amarelo, cor de mel, que pode ser visto quando a lesão é puncionada.
Figura 3- Máculas, pápulas e vesículas multifocais a coalescentes, azul-acinzentadas, ocluindo parcialmente o canal auditivo externo causadas por cistoadenomatose ceruminosa.
Esses cistos podem não necessitar de intervenção, mas se estiverem mito grandes, causando uma obstrução podem predispor os felinos a otite externa crônica e recorrente. Neste casos são indicados a ablação das formações, de preferencia a laser.
Ectoparasitas (Sarnas)
A sarna sarcóptica, causada pelo ácaro Sarcoptes scabiei pode causar prurido grave e na maioria dos casos afeta em primeiro lugar as margens da pina e depois cotovelos e jarretes. As lesões nas margens da pina são tipicamente escamosas, crostosas, alopécicas e eritematosas.
A maioria dos cães infectados com sarna exibe a resposta pinal-pedal (ou seja, animal mexe o membro pélvico em resposta à fricção da margem da pina).
Embora o diagnóstico da sarna canina seja feito por meio do exame parasitológico do raspado de pele (EPRP) algumas vezes pode ser difícil encontrar ácaros e muitas vezes o diagnóstico terapêutico com o uso de avermectinas pode ser institucionalizado.
E fármacos da classe das isoxazolinas também podem ser utilizados e atuam por meio da inibição seletiva do ácido γ-aminobutírico do artrópode e dos canais de cloreto controlados por L-glutamato.
Todos os cães e gatos da casa devem ser tratados e as roupas de cama, caminhas, cobertores etc devem ser lavados em água quente ou destruídos. A terapia adjuvante com anti-histamínicos, corticosteroides ou oclacitinibe pode ser útil na redução do prurido associado à sarna, que é causado por uma reação de hipersensibilidade.
Figura 4- Alopecia escamosa com crostas em pina, com lesão ulcerada, causada pela sarna sarcóptica
Seborreia das margens das orelhas
A seborreia das margens das orelhas é uma forma localizada de seborreia que afeta as margens da pina de cães, principalmente da raça Dachshunds, mas também pode ocorrer em outras raças (normalmente aquelas com orelhas longas e pendentes).
As lesões começam com crostas cilindras gordurosas, escamosas e aderentes que podem progredir e afetar toda a margem da orelha (Figura 6). Em casos graves, podem aparecer crostas espessas com debris seborreicos e fissuras.
As crostas e as fissuras podem causar dor e incomodo e podem resultar em meneios de cabeça e prurido, o que pode piorar as fissuras e os sangramentos no local. Os diagnósticos diferenciais incluem sarna sarcoptica, vasculite e adenite sebácea.
A seborreia da margem da orelha não tem cura, mas pode ser controlada com o uso diário de Sshampoos anti-seborreicos que contêm peróxido de benzoíla, ácido sulfuroso-salicílico e/ou fitoesfingosina ou ceramidas.
O uso semanal de uma mistura tópica de ácidos graxos essenciais também pode ser eficaz.
FIGURA 5 – Debris aderentes hiperceratóticos, escamosos e crostosos causados por seborreia na margem da orelha em um cão.
Adenite Sebácea
A adenite sebácea é uma doença inflamatória que causa destruição e perda das glândulas sebáceas. Embora a causa e a patogênese da doença não sejam bem conhecidas, a predisposição racial e a ocorrência em linhagens familiares sugerem um possível componente genético. Apesar de poder ocorrer em qualquer raça, é vista com mais frequência em Poodles, Akitas, Samoiedas, Vizslas e mestiços de Poodle. Os gatos raramente são afetados.
As glândulas sebáceas normalmente produzem substancias gordurosa e outras substâncias que ajudam a manter a pele e os cabelos hidratados e lubrificados.
A pele fica seca e o pelo fica quebradiço quando essas glândulas estão ausentes ou não funcionais, podendo ocorrer infecção bacteriana secundária. As lesões podem ocorrer em qualquer lugar e geralmente são generalizadas; no entanto, muitos cães afetados podem inicialmente apresentar lesões apenas nas margens das pinas, havendo casos limitados aos pavilhões auriculares.
Os sinais clínicos incluem alopecia com intensa descamação cutânea com “lingotamento” de pêlos (ou seja, restos de queratina aderidos ao pelame ; Figura 7). Em gatos, as lesões geralmente começam em pavilhões auriculares e face.
O diagnóstico de adenite sebácea é geralmente fechado através do histopatologico. O tratamento inclui terapias tópicas e sistêmicas, com uso de xampus queratolíticos hidratantes. Em casos mais graves, mergulhar o cão ou gato em propilenoglicol diluído ou óleo de bebê diluído pode ser útil e deve ser seguido de banho com xampus queratolíticos. O uso de uma mistura tópica de ácidos graxos essenciais semanalmente também pode ser eficaz. A ciclosporina é o único tratamento sistêmico de escolha que demonstrou resultar em aumento das glândulas sebáceas juntamente com melhora clínica. Outras opções terapêuticas incluem a suplementação de ácidos graxos ômega-3 e -6, vitamina A e ainda o uso de doxiciclina ou niacinamida.
Figura 6– Adenite sebácia causando alopecia escamosa em pina.
Fonte – Artigo Clinician Brief – 2019 – Top 5 Conditions Affecting the Pinnae. Autores: Andrew Rosenberg, DVM, DACVD, Animal Dermatology & Allergy Specialists, White Plains, NY, & Riverdale, NJ
https://www.cliniciansbrief.com/article/top-5-conditions-affecting-pinnae