BLOG – Você sabe classificar as anemias dos seus pacientes? Sabe por que é importante classifica-las?
A anemia é definida como a diminuição da contagem total de eritrócitos/hemácias (RBC), mas também do hematócrito (HT) e da concentração de hemoglobina (Hgb),
Pode desenvolver-se a partir da perda, da destruição das hemácias ou da diminuição na produção de hemácias.
Podemos classificar as anemias quanto a gravidade, quanto aos índices eritrocitários e quanto à regeneração.
- Grau de gravidade
A gravidade esta relacionado a % de eritrócitos, mas devemos também levar em conta a raça, a idade, o sexo do animal e o histórico, ao interpretar os resultados.
Classificação | HT (%) |
Leve | 30-37,3 |
Moderada | 20-29 |
Grave | 13-19 |
Muito grave | <13 |
- Índices eritrocitários
A determinação dos índices eritrocitários pode auxiliar no diagnóstico diferencial de anemia. Os índices eritrocitários incluem o volume corpuscular médio (VCM) e a concentração média de hemoglobina corpuscular (CHCM) – concentração de hemoglobina de cada hemácia.
Estes parâmetros nos ajudam a entender quais os tipos de eritrócitos estão sendo produzido pela medula óssea.
Com base no valor do VCM estas podem ser classificadas em:
– normocíticas (VCM normal)
– macrocíticas (VCM aumentado)
– microcíticas (VCM diminuído).
E de acordo com o seu CHCM em:
– normocrômicas (CHCM normal)
– hipocrômicas (CHCM diminuído)
3- Regeneração
Além disso as anemias podem ser classificadas como regenerativa ou não regenerativa. Na anemia regenerativa, a medula óssea responde adequadamente à diminuição do volume de glóbulos vermelhos, aumentando a produção de hemácias e liberando reticulócitos.
Na anemia não regenerativa, a medula óssea responde inadequadamente ao aumento da necessidade de hemácias.
Geralmente a anemia causada por uma hemorragia ou hemólise é tipicamente regenerativa. A anemia causada pela diminuição da eritropoietina ou por uma anormalidade na medula óssea não é regenerativa.
ANEMIA REGENERATIVA | ANEMIA NÃO REGENERATIVA |
RETICULÓCITOS > 60.000 OU >1% | Reticulócitos < 60.000 ou < 1% |
MACROCITOSE (> VCM) | Microcitose (< VCM) |
Hemácias nucleadas | Normocítica (VCM normal) |
Policromasia | Não responde em 3 a 5 dias |
Hipocromia (diminuição CHCM) | Normocrômia |
As Anemias regenerativas, são aquelas onde há uma resposta da medula óssea face a um episódio de destruição de eritrócitos (hemólise) ou de perda de sangue (hemorragia), com a libertação de eritrócitos imaturos na circulação.
Estas anemias são inicialmente normocíticas normocrômicas, mas podem evoluir para anemias macrocíticas hipocrômicas ou macrocíticas normocrômicas se tiver decorrido tempo suficiente para a libertação de um número significativo de reticulócitos da medula óssea.
Já nas anemias não regenerativas, vemos uma redução ou ineficácia da eritropoiese ou até mesmo uma diminuição do tempo de vida dos eritrócitos e geralmente é resultado de alterações patológicas medulares, ou devido a complicações secundárias a doenças externas a medula.
A anemia normocítica normocrômica é a forma mais comum de anemia não regenerativa e ocorre geralmente por doenças extramedulares, particularmente anemia por doença inflamatória.
As anemias não regenerativas também podem ser microcíticas hipocrômicas, tal como se verifica nas anemias por deficiência em ferro.
Aqui estão algumas causas medulares e extramedulares mais comuns desse tipo de anemia:
Ainda temos a anemia hemolítica, que ocorrem devido ao aumento da destruição de eritrócitos no organismo. Os eritrócitos podem sofrer lise em circulação (hemólise intravascular), ou podem sofrer fagocitose pelas células do sistema mononuclear-fagocítico no baço e/ou no fígado (hemólise extravascular).
As principais causas de anemia hemolítica são: imuno-mediadas (podendo ser primária ou secundárias a agentes infeciosos, incompatibilidade de grupos sanguíneos, ou fármacos), infeção (Babesia spp., Mycoplasma haemocanis;, entre outros), por lesão oxidativa (intoxicação por zinco, alguns fármacos, etc.), por lesões endoteliais (hemangiossarcoma, coagulação intravascular disseminada (CID), vasculite, dirofilariose, entre outros), defeitos hereditários na membrana eritrocitária (estomatocitose no Malamute-do-Alasca, por exemplo) ou alterações das vias metabólicas enzimáticas (deficiência de fosfofructoquinase e deficiência de piruvato quinase)
E ainda temos as anemia hemorrágicas, onde a anemia é secundária a uma perda de sangue importante. Esta perda pode ser para o interior do corpo (para uma cavidade: abdominal, torácica, etc.) ou para o exterior do corpo.
As principais causas de anemia hemorrágica são: traumatismos (por exemplo: hemoperitoneu por torção esplénica ou traumatismo do fígado), traumatismo cirúrgico, hemangiossarcoma no baço (hemoperitoneu por rotura), neoplasias intestinais (por exemplo: carcinoma, leiomiossarcoma, linfoma), ulceração do tubo digestivo, queimaduras, parasitas (ancilostomídeos, coccídeas, pulgas, entre outros), alterações hemostáticas (trombocitopenia, por exemplo) e coagulopatias.
Uma hemorragia externa crónica pode dar origem a uma anemia por deficiência de ferro, que tanto pode ser regenerativa como não regenerativa. Neste caso, o fator determinante para a ocorrência da anemia não é a perda de sangue per se mas sim da depleção do ferro que advém da mesma.
É muito importante o clínico conhecer as características de cada tipo de anemia e classifica-la, para auxilia-lo na busca das possíveis causas e no tratamento do seu paciente.