BLOG – Você já pensou se a Gabapentina prescrita na pré-consulta interfere na mensuração da pressão arterial do seu paciente felino?
Sabemos que a doença renal crônica (DRC) é a doença metabólica felina mais prevalente, e 1 em cada 4 gatos com DRC apresentam hipertensão sistêmica. Portanto a mensuração regular da pressão arterial sistêmica (PA) é uma monitoração importante nesses animais, para prevenirmos os possíveis efeitos adversos da hipertensão, que podem impactar os rins, olhos, cérebro e sistema cardiovascular.
Em um trabalho publicado recentemente pela nossa professora Jéssica Quimby – “Quimby JM, Jones SE, Saffire A, et al. Assessment of the effect of gabapentin on blood pressure in cats with and without chronic kidney disease. J Feline Med Surg. 2024;26(5):1098612X241240326. doi:10.1177/1098612X241240326” foi avaliado se o uso da gabapentina pré-consulta poderia interferir nessa importante mensuração.
Sabemos que a própria visita ao hospital causa ansiedade e alterações na PA e por essa razão em si, já pode tornar as medições não confiáveis. E entender se a gabapentina que é usada para reduzir o estresse em gatos durante a visita ao hospital pode impactar na correta mensuração da PA, principalmente em pacientes renais é extremamente útil.
Neste estudo, os efeitos da gabapentina na mensuração da PA foram avaliados em 16 gatos saudáveis e em 13 gatos com DRC estável. A PA dos animais foi mensurada 3 horas após uma única administração oral de gabapentina (10 mg/kg) e 3 horas após uma única administração de um placebo oral. As medições foram separadas por ≈1 semana, e a ordem em que a gabapentina e o placebo foram administrados foi randomizada.
A alteração mediana na PA atribuída à gabapentina foi de −12 mm Hg (variação de −95 a 10 mm Hg) em gatos saudáveis e −12 mm Hg (variação de −43 a 21 mm Hg) em gatos com DRC.
A idade média diferiu em gatos saudáveis (6,7 anos) e gatos com DRC (12 anos), mas dados mínimos estão disponíveis para sugerir que essa diferença contribuiu substancialmente para os resultados do estudo.
Desta forma, os autores concluíram que a gabapentina afeta os valores da PA em gatos com e sem DRC, o que deve ser considerado quando a gabapentina é administrada a gatos que requerem medição da PA.
Ou seja, quando medimos a PA em um gato após a administração de gabapentina esta estará provavelmente menor do que se esse paciente não estiver sedado.
Apesar dessa alteração, os próprios autores indicam o uso em gatos mais ariscos, medrosos, estressados, ou seja, em gatos não cooperativos ou no caso de tutores que solicitem seu uso, mas em animais calmos e cooperativos, talvez seja melhor não usarmos a gabapentina como medicação ansiolítica pré-consulta, quando formos monitorar a PA dos pacientes, para obtermos mensurações mais confiáveis.
E se o gato não for seu paciente e só vier para a mensuração da PA, lembre-se sempre de perguntar ao tutor se foi dado alguma medicação ansiolítica, se foi administrado gabapentina e anotar essa informação no laudo emitido.
Fonte: Clinician brief