BLOG – Uso do aceponato de hidrocortisona para o tratamento das otites externas não supurativas
Por Dra. Rita Carmona
Os quadros de otite, em cães e em gatos, são quadros com inflamção de base importante, que tem as alergias como a principal causa de base, sendo as orelhas bastante acometidas.
Segundo levantamentos de literatura, as otites externas em cães compreendem cerca de 20% de todos os casos atendidos na clínica de pequenos animais, cerca de até 85% são aquelas otites eczemato-ceruminosas (não purulentas) que tem como causa primária a inflamação e posteriormente crescimento secundário de leveduras (Malassezia pachydermatites) e bactérias (Sthaphylococcus pseudointermedius). Ainda, segundo a literatura, até 20% podem evoluir para otite purulenta ou otite média, considerada uma evolução crônica desfavorável.
As principais causas de otite eczemato-ceruminosa são: otoacaríase (cerca de 5% dos casos), corpo estranho, neoplasias, causas endócrinas, alterações anatômicas e causas idiopáticas. Contudo, em mais de 80% das vezes, a causa é alérgica, sendo a dermatite atópica aquela mais incriminada nos quadros.
Como a otite externa se desenvolve nos cães?
Os condutos auditivos na suas porções vertical e horizontal são revestidos pelo mesmo epitélio da pele e, portanto, sofrerá com inflamação da mesma forma que a pele do paciente alérgico. Com o aumento da inflamação, ocorrerá aumento da produção de cerúmen pelas glândulas ceruminosas presentes no conduto auditivo e posteriormente aumento da disbiose com crescimento de leveduras e/ou bactérias que piorarão o quadro.
Quadro 1 – Ciclo do desenvolvimento da otite
Foto 1: Quadro de otite eczemato-ceruminosa em cão da raça Shihtzu com dermatite atópica
Foto 2: Otite eczematosa em cão SRD com dermatite atópica
Tratamento das otites eczemato-ceruminosas
Está indicado o uso de um potente corticóide, preferencialmente tópico, para o controle primário da inflamação, pois, com o controle do quadro infamatório, haverá de forma bastante eficaz, o controle do crescimento de microorganismos.
O controle da inflamação primária com um corticoide rápido, eficaz e seguro será suficiente para o manejo das otites eczematosas
Ao quebrar o ciclo entre inflamação/infecção com o uso de um corticoide,
sem diretamente tratar a disbiose com um antibiótico (disbiose infecção),
será suficiente para controlar o super crescimento microbiano. Estudos recentes demonstraram que o uso do aceponato de hidrocortisona, reduziu a quantidade de bactérias leveduras, na mesma magnitude que os produtos contendo antibióticos e antifúngicos na sua composição.
O aceponato de hidrocortisona 0,584mg/mL, atualmente disponível numa formulação otológica, que está em um veículo que tem a capacidade de melhor aderência aos condutos auditivos. Tem uma potente ação tópica, pois é um diéster, propiciando uma atividade anti-inflamatória potente. Então, será degradado e ao atingir a circulação sistêmica, já terá sido degradao numa forma inativa que não acarretará em efeitos adversos indesejáveis.
Importante salientar que animais alérgicos tendem a apresentar otite inflamatória de repetição, uma vez que os condutos auditivos tendem a perpetuar a inflamação, mesmo quando existe o bom controle do quadro alérgico, Uma das formas de prevenção das recidivas das otites nesse caso é a realização de terapia pró-ativa com uso de corticóide tópico em condutos auditivos, uma a duas vezes por semana.
Ressalta-se que a terapia pró-ativa e o controle dos quadro de otopatias requerem avaliação do médico veterinário, avaliações do quadro dermatológico, otológico com realização de exame citológico e exames de rotina para entender se esse paciente não pode estar desenvolvendo efeitos adversos ao uso de corticóide, a despeito do aceponato de hidrocortisona ser extremamente seguro, mesmo em terapia contínua.
Ainda, precisamos ressaltar que o corticóide tópico de apresentação otológico, em uso isolado, está contra-indicado nos casos de otite supurativa, de perfuração de membrana timpânica e de otite média-interna. A eficácia do tratamento está, também, condicionada à identificação e controle das causas de base.