Persistência de Fontanelas em Chihuahuas: Entenda a Condição - Vetsapiens

BLOG – Persistência de fontanelas em Chihuahuas

25 de julho de 2022
Sabemos que fontanelas abertas são um achado normal em filhotes muito jovens, mas a medida em que os animais cresecem as placas de crescimento em seu crânio se fundem e as fontanelas abertas reduzem gradualmente de tamanho até que não existam mais. Fontanelas abertas persistentes, no entanto, são uma condição genética comum que é vista em algumas raças de cães pequenos, incluindo Chihuahuas, Dachshunds Miniatura, Lulu da Pomerânia, Shih Tzus, Yorkshire Terriers, Maltês, Lhasa Apsos e Pequinês. Nesses cães, as fontanelas abertas persistentes são causadas por anormalidades genéticas no fechamento normal do crânio do desenvolvimento. As placas de crescimento nesses cães simplesmente não se fundem de maneira normal, deixando um ponto mole persistente no crânio.Cada vez mais estamos encontrando cães selecionados para serem muito pequenos, menores de 1,5kg. Mas os impactos desta seleção artificial visando somente conformação estetica e nao levando em conta a saude e bem-estar vem se mostrando em diversos estudos. No caso das fontanelas persistentes,  dois estudos descritos a seguir, demonstraram este problema em Chihuahuas.

Um primeiro estudo publicado em maio de 2021, intitulado “Persistent fontanelles in Chihuahuas. Part I. Distribution and clinical relevance” pelos pesquisadores Anna-Mariam Kiviranta, Clare Rusbridge, Anu K. Lappalainen, Jouni J. T. Junnila,Tarja S. Jokinen demosntrou que muitos cães desta raça apresentam fontanelas persistentes, que aparecem nas superfícies craniais dorsal, lateral e caudal. Essas fontanelas são mais numerosas e maiores em Chihuahuas com sinais clínicos relacionados a malformação Chiari-like  (CM) e a siringomielia (SM).

 Cães da raça Chihuahua são conhecidos pela frequente ocorrência de uma fontanela bregmática no dorso do crânio. Acredita-se que esse defeito craniano é um achado clinicamente irrelevante. Nenhum estudo anterior, no entanto, descreveu sua prevalência ou descobri a existência de outras fontanelas persistentes (FPs). Embora os Chihuahuas sejam predispostos à malformação Chiari-like (MC) e à siringomielia (SM), não se sabe se as FPs ocorrem mais comumente em cães com sinais clínicos causados ​​por estas afecções – MC ou SM.

O estudo teve como objetivo, descrever o número e localização das FPs nas suturas cranianas (SCs) e comparar a ocorrência dessas FPs em cães, com e sem sinais clínicos,  relacionados as alterações MC ou SM. A hipótese inicial dos pesquisadores era de que as fontanelas persistentes também ocorriam nas superfícies craniais laterais e caudais, afetando um número maior de cães e eram mais prevalentes e maiores em cães com sinais clínicos relacionados a CM/SM.

Neste primeiro estudo, 50 Chihuahuas de tutores,  com ou sem sinais clínicos relacionados a MC/SM foram avaliados.

Resultados
Dos 50 cães avaliados, 46 (92%) apresentaram 1 ou vários FPs. A média ± SD do número de FPs foi de 2,8 ± 3,0 (variação, 0-13). Um total de 138 FPs ocupou 118 SCs com 57 (48%) localizados dorsalmente, 44 (37%) caudalmente e 17 (14%) lateralmente. O número de cães afetados por FPs foi significativamente maior (P ≤ .001) e a área total das FPs foi significativamente maior (P = .003) em cães com sinais clínicos relacionados a CM/SM.

Conclusões e Importância Clínica
Fontanelas persistentes são muito comuns neste grupo de cães da raça Chihuahua e aparecem nas superfícies craniais dorsal, lateral e caudal. Eles são mais numerosas e maiores em Chihuahuas com sinais clínicos relacionados a CM/SM.

Em um segundo estudo publicado pelos mesmo autores , intitulado Persistent fontanelles in Chihuahuas. Part II: Association with craniocervical junction abnormalities, syringomyelia, and ventricular volume” os autores queriam provar a hipotese de que as fontanelas persistentes estudadas no 1o estudo eram mais numerosas e maiores em Chihuahuas com baixo peso corporal, com idade avançada,  com siringomielia (SM), com o quarto ventrículo dilatado, ventriculomegalia e problemas na junção craniocervical (CCJ),

Foram avaliados neste 2o estudo 50 chihuahuas de tutores, e foram feitas avaliações da associação do número de suturas cranianas acometidas por FPs (NAS) e da área total da fontanela (ATF), baseado em tomografia computadorizada de animais com MS, dilatação do quarto ventrículo, volume do ventrículo lateral e extensão da compressão do tecido neural com base em imagens de ressonância magnética.

Resultados
O NASs foi maior e TFA maior em cães com baixo peso corporal (NAS: P = 0,007; intervalo de confiança de 95% [CI] = 0,384-0,861; TFA: P = 0,002; IC 95% = -1,91 a -0,478) , ventrículos laterais maiores (NAS: P ≤ .001; IC 95% = 1,04-1,15; TFA: P ≤ .001; IC 95% = 0,099-0,363) e compressão do tecido neural mais grave no CCJ (NAS: P ≤ 0,001; IC 95% = 1,26-2,06; TFA: P = 0,03; IC 95% = 0,066-1,13). Da mesma forma, cães com SM (NAS: P = 0,004; IC 95% = 1,26-3,32; TFA: média ± SD, 130 ± 217 mm2; P = 0,05) tiveram maior NAS e maior TFA do que cães sem SM (43,7 ± 61,0 mm2). A idade não foi associada com NAS (P = 0,81; IC 95% = 0,989-1,01) ou TFA (P = 0,33; IC 95% = -0,269 a 0,092).

E as hipóteses foram confirmadas, concluindo que as fontanelas persistentes estão associadas ao tamanho pequeno, a SM, ventriculomegalia e problemas na CCJ.

Figura 1 –  Imagem de tomografia computadorizada com técnica de renderização de volume, de um crânio de Chihuahua em vista lateral esquerda, mostrando 2 fontanelas persistentes bem demarcadas na sutura frontoparietal esquerda e na interseção dos ossos frontal esquerdo, esfenóide e parietal, portanto em uma localização semelhante à a de uma fontanela esfenoidal em crianças

Estes dois trabalhos corroboram a hipótese de que as seleções artificiais para que os Chihuahuas fiquem cada vez menores, com menos de 1,5 KG esta mais associada a FPs, que são mais numerosas e maiores nesses animais, e indicam que os fatores genéticos responsáveis por seu tamanho extremamente pequeno,  também podem estar associados aos problemas de crescimento e ossificação do crânio.

 

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