BLOG – Orientações para a prevenção e controle da Leishmaniose Visceral Canina
Sabemos que LEISHMANIOSE é uma doença grave, presente em mais de 80 países, que não acomete somente animais, mas também seres humanos e por isso temos um papel importadíssimo na educação de tutores para a prevenção da disseminação da doença em animais e pessoas.
Importante sempre que possível explicarmos aos tutores, principalmente para aqueles que vivem em áreas endêmicas, sobre a doença, sua forma de transmissão e sobre as principais medidas preventivas.
Desta maneira, trazemos aqui, um resumo das principais informações que nós veterinários devemos saber quando se trata de leishmaniose visceral canina.
Etiologia
A Leishmaniose Visceral Canina (LVC) é uma doença sistêmica, crônica e grave causada pelo protozoário Leishmania infantum.
Quem transmite o protozoário?
É uma zoonose cujo principal transmissor (vetor) são insetos dípteros, conhecidos como flebótomos, predominando no Brasil a espécie Lutzomyia longipalpis, também conhecido como mosquito-palha.
A transmissão entre os mamíferos susceptíveis ocorre pela picada da fêmea hematófaga do inseto contendo as formas infectantes.
Além do cão e do homem muitas outras espécies de mamíferos, como o gato, canídeos silvestres, marsupiais, roedores e bovinos também podem ser naturalmente infectados por L. infantum.
Por que vemos mais em cães?
Em áreas endêmicas, os cães são considerados os mais importantes reservatórios do parasito, devido a sua relação de proximidade com o homem, sua alta carga parasitária cutânea quando sintomáticos ou até mesmo por serem o reservatório mais estudado nas últimas décadas.
Qual é o ciclo de vida do protozoário?
Quais são os sinais clínicos que podemos detectar nos cães infectados?
A Leishmaniose Visceral Canina é doença crônica e lentamente progressiva. Em alguns cães, os sinais clínicos não aparecem até um ou dois anos após a infecção, mas podem variar de animal para animal, alcançando a média de três a sete meses. Mais de 50% dos animais permanecem assintomáticos durante este período, alguns podem nunca apresentar sinais clínicos, chegando até mesmo a eliminar o parasito. Em relação à manifestação de sinais clínicos, os cães podem ser classificados em dois grupos:
Em cães sintomáticos esses são os principais sinais clínico patológicos observados em graus variados:
- Alterações cutâneas: alopecias, úlceras, hiperqueratose (especialmente no focinho, ao redor dos olhos, nas orelhas e extremidades), descamação furfurácea, feridas de difícil cicatrização, reação local da infecção após picada (“Cancro de inoculação”);
- Onicogrifose (crescimento anormal das unhas)
- Emagrecimento progressivo;
- Anorexia, febre e apatia;
- Atrofia muscular (principalmente músculos da cabeça);
- Anemia, trombocitopenia e/ou leucopenia;
- Alteração no proteinograma (hipoalbuminemia hiperglobulinemia);
- Diáteses hemorrágicas (melena, epistaxe, equimoses, sufusões e hematomas);
- Hepatite e hepatomegalia;
- Esplenomegalia;
- Linfadenomegalia localizada ou generalizada;
- Icterícia;
- Alterações oculares (Ceratoconjuntivite, blefarite, uveíte, retinopatia, hifema);
- Insuficiência renal;
- Alterações gastroentéricas crônicas: diarréias persistentes evômitos;
- Claudicação (poliartrite, reabsorção ou proliferação óssea);
- Alterações neurológicas: paresia de membros, ataxia, convulsão;
- Pneumonite e miocardite.
Devemos lembrar que os sinais clínicos da LVC são inespecíficos e podem mimetizar várias doenças sistêmicas.
Portanto, a observação cuidadosa dos sinais deve vir acompanhada sempre de exames confirmatórios.
Somente a observação de sinais como a linfadenomegalia, alterações dermatológicas, hiporexia, onicogrifose e emaciação não pode concluir o diagnóstico de Leishmaniose.
Na fase terminal da doença a maioria dos cães apresenta insuficiência renal crônica, ulceras e lesões de difícil cicatrização, e doenças oportunistas devido ao comprometimento do sistema imune. Febre pode ou não estar presente durante o curso da doença.
Pequena porcentagem dos cães infectados (10%) parece ser naturalmente resistente à infecção e não desenvolve a doença. Isto parece ocorrer devido à forte resposta imune celular destes indivíduos.
Em relação aos exames diagnósticos e os tratamentos disponíveis, acesse a nossa consulta rápida – https://vetsapiens.com/consultas-rapidas/leishmaniose-visceral-canina-e-felina/
Agora a informação mais importante que devemos saber para poder orientar os tutores é sobre as formas de prevenção e controle da Leishmaniose Visceral Canina. Sabemos que as medidas de prevenção são complexas e envolvem manejo do ambiente, controle do vetor e medidas preventivas no animal.
LEMBRAR – O controle da Leishmaniose Visceral tem como objetivo, interromper a cadeia de transmissão entre o cão e o homem no ambiente urbano.
Por isso é importante estabelecer medidas de controle do flebótomo e medidas que evitem o contato do inseto com os cães e o homem.
Medidas ambientais de controle do vetor
O flebótomo costuma se reproduzir em locais com muita umidade e matéria orgânica em decomposição.
Portanto, como medidas de controle do vetor, podemos recomendar aos tutores:
- Evitar acúmulos de lixo de casa e destinar o lixo adequadamente: é uma maneira de contribuir para a saúde do meio ambiente e ao mesmo tempo evitar a proliferação dos insetos;
- Manter o ambiente do cão, quintal ou varanda, sempre limpos, livre de fezes e acúmulo de restos de alimentos, frutas e folhagens;
- Manter a grama e o mato sempre cortados, com retirada de entulhos, lixo e fezes animais, evitando a formação de fonte de umidade e de matéria orgânica em decomposição;
- Como forma repelente ao inseto, utilizar spray de saneantes desinfetantes (inseticidas) que sejam seguros para os animais e crianças e sempre que possível cultivar plantas com ação repelentes como Citronela ou Neem.
Medidas para proteger o cão
- Recomendar o uso de coleiras impregnadas com deltametrina a 4% – como a coleira SCALIBOR
Obs* A coleira SCALIBOR foi desenvolvida para promover uma lenta liberação do princípio ativo. Ao se colocar a coleira, nas primeiras 2-3 semanas, ocorrerá uma lenta diminuição das infestações, com aumento da eficácia após esse período, auxiliando no controle de carrapatos e pulgas. Para mosquitos e moscas o controle é garantido por até 4 meses. Efetuar a troca da coleira respeitando esses períodos e orientar que a coleira pode ser utilizada continuamente sem problemas, não sendo necessário retirar a coleira para dar banhos nos animais e nem durante os períodos de chuvas.
Obs* Estudos de campo conduzidos em municípios brasileiros endêmicos para LV demonstraram redução da prevalência canina e incidência humana em áreas com uso das coleiras impregnadas com deltametrina a 4% (SCALIBOR)
- Produtos repelentes do tipo pour-on de ação prolongada (reaplicar a cada 21 dias), nos animais, inclusive ao transportar os animais para outras regiões, para evitar que ele se infecte ou que transmita para um flebótomo caso esteja infectado;
- Recomenda-se uso de produtos a base de isoxazolinas, como o fluralaner (BRAVECTO), que possuem ação inseticida, eliminando o flebótomo após o repasto sanguíneo, ajudando no controle da enfermidade em áreas endêmicas.
- Devemos também aconselhar os tutores a evitar passeios com o seu cão no final da tarde e início da noite, períodos de maior atividade do mosquito-palha;
- Recomendar o proprietário a vacinar o seu cão anualmente, contra a Leishmaniose, como medida preventiva segura e eficaz.
- Sabe-se que há um grande número de cães assintomáticos infectados, o que é um dos fatores que dificulta o controle da LVC, pois os animais assintomáticos também são reservatórios dos protozoários e são capazes de infectar flebotomíneos.
- Por isso é importante que, como veterinário, você esteja atento às possíveis alterações clínico patológicas de seus pacientes, na tentativa de diagnosticar a doença precocemente.
LEMBRE-SE – O combate ao vetor e a prevenção da infecção com produtos repelentes são considerados pela Fundação Nacional de Saúde e pela Organização Mundial de Saúde, as melhores opções na luta contra a Leishmaniose Visceral, sendo por isso recomendada como estratégias importantes de controle da doença. E animais que estão sob tratamento para a LVC devem usar permanentemente coleiras repelentes e produtos com ação inseticida como medida cautelar para evitar a transmissão da doença.
Por Rosangela Gebara