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Blog  – Obesidade em cães: o que sabemos sobre os fatores etiológicos

2 de dezembro de 2024

A tão falada e comentada obesidade pode ser definida como um acúmulo excessivo de gordura corporal que impacta a saúde e o bem-estar dos animais. Cães que pesam pelo menos 10% acima do peso corporal ideal são considerados “acima do peso”, enquanto cães que pesam 20% a mais, são considerados “obesos”.

Quais são os riscos associados à obesidade em cães?

Estudos americanos indicaram que mais de 65% dos cães nos Estados Unidos são considerados acima do peso ou obesos e no Brasil alguns estudos mostram incidência entre 25% a 40% dos cães.

A obesidade canina pode piorar ou contribuir para o aparecimento de muitas condições, como:

  • Artrite
  • Pancreatite
  • Doença renal
  • Comprometimento respiratório
  • Diminuição da tolerância ao exercício e ao calor
  • Aumento do risco de doença cardiovascular
  • Resposta anormal à insulina
  • Aumento do risco anestésico
  • Diminuição da qualidade de vida
  • Diminuição da longevidade

Tutores de cães obesos se apresentam ao consultório relatando os seguintes sintomas:

Intolerância ao exercício, respiração mais ofegante, menos energia do que o normal, dificuldade de subir escadas, de se levantar, de pular…ou até mesmo relatos como – “o peitoral está mais apertado…” ou “…. não vejo mais a cintura, nem as costelas do meu cão”

Em relação a etiologia, podemos elencar várias possíveis causas para esse aumento de peso nos cães domésticos, mas a mais obvia é a superalimentação, que pode incluir alimentos secos ou úmidos hipercalóricos e em alta quantidade, guloseimas caninas, “restos de comida” ou alimentos humanos. Algumas drogas podem aumentar o apetite como corticosteroides e fenobarbital.

Também vemos o sedentarismo, a mudança no estilo de vida, a falta de exercícios como uma causa adicional, mas obviamente temos que pesquisar se há comorbidades,  que são também causas comuns de obesidade, como: hipotireoidismo, hiperadrenocorticismo (doença de Cushing).

A idade também influencia, cães mais velhos tem metabolismo menor e mais quantidade de massa gorda que massa magra.

Além disso existe uma predisposição genética, e sabemos que certas raças podem ser mais predispostas à obesidade, como:

  • Golden Retriever
  • Labrador Retriever
  • Cocker Spaniel
  • Dachshund
  • Beagle
  • Boxer
  • Pug

Alguns estudos falam sobre a influencia da gonadectomia como um fator de risco significativo para a obesidade, mas sabemos que a gonadectomia por si só é provavelmente menos importante do que outros fatores ambientais (por exemplo, dieta, regime de exercícios).

Em um estudo realizado na Australia para determinar a prevalência de obesidade em cães que eram atendidos em clínicas veterinárias; 1700 clínicas foram solicitadas a preencher uma pesquisa de opinião veterinária e, das 428 clínicas que responderam, 178 foram selecionadas para preencher um questionário sobre obesidade de animais de estimação e forneceram dados sobre 2661 cães, dos quais 892 (33,5 %) estavam acima do peso e 201 (7,6 %) eram obesos. Outros 112 cães (4,2%) foram classificados como magros ou muito magros, e foram excluídos das análises subsequentes. Dos 2549 cães restantes, aproximadamente metade eram fêmeas e 1905 (74,7%) eram castradas.

O estudo demonstrou que a categoria de peso em que o animal se encontrava era influenciada por vários fatores. A raça, o sexo, a idade e a castração foram importantes.

A prevalência de cães com sobrepeso e obesos combinados foi de 41%; e essa prevalência aumentou com a idade até cerca de 10 anos de idade e depois diminuiu. Cães rurais e semi-rurais estavam mais em risco de obesidade do que cães urbanos e suburbanos.

Tratamento da obesidade em cães

Os componentes básicos para tratar a obesidade são exercícios e mudanças na dieta. Dependendo da gravidade da obesidade e do nível de condicionamento físico atual, pode ser necessário aumentar de forma bem gradual a quantidade de exercícios diários do paciente.

Em geral, a maioria dos cães pode se exercitar com segurança por 15 a 30 minutos por dia para começar. A duração e a intensidade podem ser aumentadas lentamente à medida que seu cão perde peso e fica mais em forma. Uma caminhada simples é viável para a maioria das famílias, mas os exercícios também podem incluir brincar de buscar objetos, dentro ou fora de casa, nadar e correr. Se o cão for idoso, as sessões de exercícios devem ser mais curtas e leves.

Mudanças na dieta são essenciais e a redução ou eliminação de extras como guloseimas e restos de comida é imprescindível.  Uma boa meta é a perda de peso de 1-2% do peso corporal por semana, idealmente reduzindo os estoques de gordura corporal enquanto mantém o tecido corporal magro.

Os programas de controle da obesidade devem ter 2 objetivos:

  1. Curto prazo: Perder peso e atingir o escore corporal ideal
  2. Longo prazo: Manter o escore corporal ideal após a conclusão do programa de perda de peso.

E para isso precisamos iniciar uma restrição calórica em combinação com exercícios.

Etapa 1: Fazer o tutor reconhecer que a obesidade está presente.

Etapa 2: Obtenha um histórico alimentar completo do tutor – tipo de alimento hábitos alimentares, horários,   quantidade exata de comida que está dando, se recebe guloseimas e quais .

Etapa 3: Forme uma parceria com o tutor.  O sucesso de um programa de perda de peso depende em grande parte da aceitação do cliente da necessidade de perda de peso e da disposição de executar as tarefas necessárias para alcançá-la. Mudanças no estilo de vida são necessárias; no entanto, tenha em mente a importância de manter o vínculo dono-animal com qualquer mudança no estilo de vida.

Etapa 4: Corrija e controle quaisquer doenças subjacentes.

Etapa 5: Induza um balanço energético negativo. A maneira mais eficaz de fazer isso é combinar restrição de energia com exercícios. O exercício é muitas vezes um componente esquecido de um programa de perda de peso; no entanto, os efeitos benéficos na taxa metabólica o tornam crítico.

Etapa 6: Calcule as necessidades calóricas. Dois métodos podem ser usados ​​para calcular um ponto de partida para a ingestão calórica:

Método 1

1 x necessidade energética de repouso (RER):

RER = 70 (peso corporal kg0,75)*

Método 2

Multiplique as necessidades energéticas de manutenção (MER) por 0,6 (60%):

MER = 1,6 x RER

OM = 60% (MER)

Embora ambos os métodos forneçam kcal/dia ligeiramente diferentes, essa diferença é clinicamente insignificante. Os cálculos calóricos iniciais são apenas pontos de partida; eles podem precisar ser modificados de acordo com a resposta individual de um cão.

Etapa 7: Escolha uma dieta apropriada para perda de peso. A maioria das empresas de ração que fazem dietas terapêuticas também faz uma dieta destinada a programas de perda de peso. Evite dietas de fome.

Dietas de fome restringem não apenas calorias, mas também todos os nutrientes. Cães, como humanos, têm necessidades diárias de certos nutrientes, e a fome não fornece esses nutrientes. Além disso, a fome diminui a massa intestinal e a área de superfície, o que pode interferir na absorção de nutrientes e aumentar o risco de translocação bacteriana.

A perda de peso líquido com programas de fome é aproximadamente equivalente à com ingestão calórica restrita, mas tem um custo muito maior para o paciente.

A fome é considerada desumana pela maioria dos clientes e veterinários e destrói a parceria cliente-veterinário necessária para uma perda de peso bem-sucedida. Se os clientes não se sentirem bem com o programa de perda de peso, eles podem se recusar a participar ou interrompê-lo prematuramente.

Os sucessos de curto e longo prazo são componentes importantes de um programa de perda de peso. A fome não fornece ao dono as ferramentas para modificar o estilo de vida em longo prazo.

Etapa 8: Divida a ingestão calórica diária total em 2 refeições. O tamanho e a frequência das refeições influenciam a termogênese pós-prandial em cães.14 A termogênese é aumentada ao alimentar várias refeições pequenas em vez de 1 refeição grande (ou seja, são necessárias calorias para digerir os alimentos). Duas refeições menores podem fornecer melhor saciedade do que 1 refeição grande.

Etapa 9: Permita guloseimas (isso faz parte do vínculo humano-animal). Forneça opções de guloseimas de baixa caloria (Tabela) e limite a quantidade de guloseimas a <10% da ingestão total de calorias do cão.

Etapa 10: Decida uma taxa de perda de peso. Devido à falta de tamanhos uniformes de cães, é melhor recomendar uma porcentagem de perda de peso corporal por semana do que uma quantidade padrão para todos os cães. Uma taxa de perda de peso de 1% do peso corporal por semana é segura.

Etapa 11: Pese o cão pelo menos uma vez a cada 2 semanas. Essa frequência permite a detecção precoce de desaceleração ou estagnação da perda de peso. Também evita que o dono invista tempo e dinheiro em um programa que não está funcionando. Verificações frequentes de peso fornecem uma oportunidade de comemorar os sucessos com os donos e motivá-los a continuar com o programa.

DESAFIOS

A falta de adesão do tutor é o fator mais importante no fracasso dos programas de perda de peso. A frustração dele com a falta de resultados pode causar insatisfação com o programa e diminuição da motivação para continuar. Alguns tutores se sentem culpados por restringir a ingestão calórica em seus cães e acham a adesão difícil. Alguns cães desenvolvem comportamentos indesejáveis, como roubar comida ou mexer no lixo, quando as calorias são restritas.

Frye CW, Shmalberg JW, Wakshlag JJ. Obesity, exercise and orthopedic disease. Vet Clin North Am Small Anim Pract. 2016; doi: 10.1016/j.cvsm.2016.04.006.
Lefebvre SL, Yang M, Wang M, Elliott DA, Buff PR, Lund EM. Effect of age at gonadectomy on the probability of dogs becoming overweight. JAVMA. 2013;243(2):236-243.
McGreevy PD, Thomson PC, Pride C, Fawcett A, Grassi T, Jones B. Prevalence of obesity in dogs examined by Australian veterinary practices and the risk factors involved. Vet Rec. 2005;156(22):695-702.
Courcier EA, Thomson RM, Mellor DJ, Yam PS. An epidemiological study of environmental factors associated with canine obesity. J Small Anim Pract. 2010;51(7):362-367.

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