BLOG- Mielopatia degenerativa - Vetsapiens

BLOG- Mielopatia degenerativa

15 de fevereiro de 2022

Por Claudia Inglez

 

A mielopatia degenerativa canina (MD) é uma doença neurodegenerativa da medula espinhal e nervos periféricos, levando a deficiência progressiva e irreversível das funções motoras. Essa enfermidade faz parte da sua lista de diferenciais ao receber esses pacientes?

As causas do desenvolvimento da MD ainda não são plenamente elucidadas, mas sabe-se que mutações do gene superóxido dismutase (SOD1) são fatores de risco, com a maioria dos casos resultantes de herança autossômica recessiva. O SOD1 codifica uma proteína responsável por destruir os radicais livres (RL) no organismo. Os RL fazem parte do mecanismo de defesa natural, mas se produzidos em quantidades excessivas,  tornam-se prejudiciais por causar morte celular e uma variedade de doenças degenerativas. Axônios, sendo muito sensíveis ao estresse mecânico e metabólico, sofrem com processos de desmielinização e degeneração.

A MD é uma enfermidade inicialmente da substância branca da medula espinhal, e com a evolução começa a afetar os nervos periféricos. É considerada semelhante em causa, progressão e prognóstico à esclerose lateral amiotrófica (ELA), fazendo dos cães modelos de estudo dessa enfermidade em humanos.

Anteriormente, a MD era mais reconhecida na raça Pastor Alemão. No entanto, na atualidade já foi descritas em várias outras raças, como Boxer, Pembroke e Cardigan Welsh Corgis, Wire Fox Terriers, Bernese Mountain Dogs, Borzoi, Cavalier King Charles Spaniels, Chesapeake Bay Retrievers, Golden Retriever, Poodle, Pug, Rhodesian Ridgeback, Shetland Sheepdog, Soft-Coated Wheaten Terriers, além de cães sem raça definida e bem mais raramente, gatos.

Os sinais clínicos iniciais são observados em cães com 8 anos ou mais e incluem perda de coordenação devido à ataxia proprioceptiva assimétrica e paraparesia espástica assimétrica, que tendem a progredir para paraplegia em até um ano do início dos sinais clínicos. Com a evolução do quadro, podem haver acometimento dos membros torácicos, perda do reflexo patelar, incontinência urinária e fecal.

Existem testes genéticos para identificar cães em risco para MD, baseados na identificação da mutação SOD1. Para estes testes são utilizados uma amostra de esfregaço da bochecha e uma amostra de sangue. Os resultados dos testes identificam cães que são “livres”, ou seja, extremamente improvável de desenvolver MD; aqueles que são “portadores” e são menos propensos a desenvolver a doença, e aqueles que estão “em risco” de desenvolver MD.

É importante entender que este teste genético NÃO confirma a MD e não pode ser usado como o único critério diagnóstico, pois as mutações do SOD1 são incompletamente penetrantes, e cães que testam positivo (em risco) para a mutação podem nunca desenvolver MD.

O único diagnóstico definitivo para MD é através de histologia post mortem da medula espinhal, e na prática, se faz um diagnóstico presuntivo por exclusão, o que significa que outras doenças com sinais clínicos semelhantes devem ser pesquisadas e excluídas. Esta situação é extremamente desafiadora, pois cães mais velhos comumente possuem enfermidades concomitantes, como doença do disco intervertebral e neoplasias. Ainda, a presença de outras afecções não exclui a presença de MD, e outras doenças adquiridas da medula espinhal podem coexistir, confundindo o diagnóstico clínico.

Infelizmente a mielopatia degenerativa é uma doença irreversível e progressiva. O prognóstico é ruim, pois não há tratamentos específicos disponíveis, embora muitos cães possam ser apoiados e manter uma qualidade de vida aceitável por meses a anos. A progressão da doença eventualmente resultará no acometimento dos membros torácicos, embora em alguns cães isso possa levar muitos anos. Muitos tutores optam por realizar cuidados paliativos antes de se decidirem pela eutanásia, quando seus cães já não conseguem caminhar ou permanecerem em estação, além de apresentarem incontinência urinária e fecal.

Suplementos dietéticos, incluindo vitamina E, ácidos graxos ômega-3, L-carnitina e ácido gama-linolênico foram sugeridos, mas nenhum provou parar ou retardar a progressão da enfermidade.

É importante manter os cães afetados ativos, evitando-se o sobrepeso. Caminhadas e técnicas variadas de reabilitação e medicina integrativa auxiliam a retardar a evolução da enfermidade, como acupuntura, fisioterapia e hidroterapia. Para os casos mais avançados, é necessário proteger as extremidades de traumas, prevenir úlceras de decúbito e monitorar infecções urinárias.

Quer saber mais?

Entre em vetsapiens.com, digite “Mielopatia Degenerativa” no buscador e tenha acesso a artigos e consulta rápida.

 

Comentar esta notícia

Você precisa estar logado para comentar as notícias.

©2024 Vetsapiens. Todos os direitos reservados.
Proibida reprodução total ou parcial deste website sem autorização prévia.