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BLOG – Doenças mais prevalentes no inverno – saiba como maneja-las!

11 de julho de 2024

Por Rosângela Gebara

Como veterinários devemos ter em mente que o inverno traz temperaturas bem mais frias, tempo mais seco e aglomeração em locais mais fechados, com menos circulação de ar, fazendo com que nossos pacientes fiquem mais propensos a contrair determinadas afecções. Além do que animais idosos e/ou com osteoartrite podem sentir mais dor nas articulações afetadas por conta das baixas temperaturas.

Alguns vírus e microrganismos são mais comuns de circularem nesta época, podendo causar em alguns animais o chamado Complexo Respiratório Infeccioso Canino (CRIC), também conhecido como Traqueobronquite Infecciosa Canina ou “Tosse dos Canis”.

Diversos agentes etiológicos podem estar envolvidos nesse complexo, porém temos como agente principal a bactéria Bordetella bronchiseptica.

Aqui estão todos os possíveis agentes associados ao Complexo Respiratório Infeccioso Canino:

Bactérias

Bordetella bronchiseptica

Mycoplasmas (Mycoplasma cynos)

Streptococcus equi (subespécies zooepidemicus)

Vírus

✓ Vírus da Parainfluenza canina

✓ Adenovírus tipo 2

✓ Vírus da cinomose

✓ Herpesvírus canino

✓ Reovírus canino

✓ Coronavírus respiratório canino

✓ Coronavírus canino (cepa antrópica)

✓ Influenza vírus canino

Se atendemos cães que ficam em ambientes úmidos, fechados, com má ventilação ou que frequentem creches, escolas, hotéis ou que vivam com muitos outros animais, em canis e abrigos, temos o dever de alertar seus tutores/responsáveis sobre esse risco e sobre os possíveis sintomas relacionados ao Complexo Respiratório Infeccioso Canino (CRIC):

Tosse de início agudo que muitas vezes se torna persistente (na maioria das vezes seca)

  • Secreção nasal serosa
  • Espirros e coriza

Em casos mais graves:

  • Febre
  • Secreção mucopurulenta
  • Letargia e inapetência
  • Taquipneia e/ou dispnéia

Sabemos que a gripe quando viral é autolimitante e que maioria dos animais melhoram após 2 a 3 semanas. Mas dependendo dos agentes envolvidos, da gravidade dos sintomas e do status do animal, ou seja, se for um animal muito jovem, ou muito idoso, ou com a imunidade baixa, ou com alguma comorbidade, o quadro pode se tornar mais grave, podendo ocorrer uma infecção bacteriana secundária, e até progredir para um quadro mais grave de pneumonia, que deve ser prontamente tratada.

Importante orientarmos os tutores que se os animais estiverem gripados devem receber cuidados extras como boa hidratação, boa alimentação (alimento mais palatável e calórico), devem ficar abrigados da chuva e do vento, deve-se evitar exercícios intensos e em alguns casos devem receber anti-inflamatórios e/ou xaropes com anti-histamínicos para melhorar os sintomas da tosse e coriza.

Devemos lembrar sempre que animais gripados, com coriza e tosse, assim como seres humanos, acabam ficando com o apetite mais caprichoso e acabam ingerindo menos alimento. Por outro lado, necessitam de um maior aporte calórico para enfrentar a infecção, portanto devemos orientar aos tutores para oferecerem alimentos mais palatáveis e em maior frequência e quantidade.

Deve-se orientar para se evitar ao máximo os banhos no período de convalescência e se for necessário, procurar dar banhos mais rápidos, com água morna, secando bem o pelo do animal. Explicar para não levar em Pet Shops para não passar os agentes infecciosos a outros cães.

Quanto aos passeios, deve seguir a rotina do animal, evitando exercícios muito intensos, passeios na chuva ou nas horas do dia com temperatura muito baixas. Mas os passeios diários, seguindo o ritmo do cão, são benéficos e não devem ser cortados, só se for por recomendação médica e em locais onde não há outros cães.

Prevenção

 Sabemos que todos os cães são suscetíveis à infecção e a doença tende a se espalhar entre os cães alojados em canis e abrigos, através de secreções respiratórias aerossolizadas (tosse e espirros) de cães infectados, por cães não infectados que entram em contato com objetos contaminados (fômites). Portanto, devemos orientar os tutores, que se seus cães forem diagnosticados com CRIC, mostrando os sinais da doença (tosse, secreção nasal, falta de apetite, etc) não devem expor seu cão a outros cães.

As roupas, caminhas, casinhas, potes de água e comida não devem ser compartilhados neste período e devem ser limpos e desinfetados se forem ser compartilhados por outros cães.

As terapias de suporte devem ser estabelecidas de acordo com a necessidade de cada paciente (oxigenioterapia, fluidoterapia, nebulização, ATB). O tratamento com antibioticoterapia deve ser indicado apenas em pacientes com suspeita do envolvimento da B. bronchiseptica e que apresentem sinais sistêmicos como febre, inapetência, letargia ou ainda em casos de pneumonia.

A vacinação é essencial para a prevenção, pois engloba grande parte dos agentes envolvidos no CRIC, incluindo a Bordetella bronchiseptica, agente patogênico considerado como primário do CRIC. Porém, num ambiente onde medidas adequadas de manejo não são conduzidas, é importante ter em mente que a vacinação não será efetiva como ferramenta única de manejo e controle de doenças infecciosas. Portanto, o conhecimento do ambiente em que vive o animal, número de contactantes e estilo de vida são alguns dos fatores que devem ser questionados para a decisão do protocolo vacinal ideal.

Devido à natureza altamente contagiosa dos agentes envolvidos no CRIC, um programa adequado de manejo e prevenção integrados é fundamental para o controle da doença e diminuição dos riscos de surtos na população canina

Como prevenção contamos com vacinas especificas para gripe canina, que protegem contra o Adenovírus Canino Tipo 2, o vírus da Parainfluenza Canina e a Bordetella bronchiseptica. E também atualmente contamos uma vacina oral contra B.bronchiseptica, como a Recombitek Oral Bordetella que faz com que a vacinação não seja menos estressante do que a aplicada intranasal, que muitas vezes causa desconforto e reflexo nasal. Ainda tem a vantagem de promover uma proteção rápida (1 semana) e duradoura, e é segura para filhotes a partir  8 semanas de vida.

Roupinhas no frio

Muitos tutores perguntam sobre o uso de roupinhas, entendemos que podem ser uteis especialmente em animais de pelo curto. Mas sempre devemos orienta-los para priorizar o uso de roupinhas confortáveis e que não restrinjam a movimentação do animal.

Cães idosos e a osteoartrite

A osteoartrite é uma doença progressiva e inflamatória, que atinge principalmente cães idosos e é caracterizada pela degeneração das cartilagens, hipertrofia das margens ósseas e mudanças na membrana sinovial, resultando em dor e rigidez nas articulações afetadas.

Durante as épocas mais frias do ano, assim como em humanos, os cães parecem apresentar mais dor articular e mais relutância ao movimento. Pesquisadores atribuem essa mudança a alguns fatores como:

  • Queda na pressão atmosférica durante o inverno ocasionando edema dos tecidos articulares, exacerbando a dor em pacientes com osteoartrite.
  • Espessamento do liquido articular em temperaturas mais baixas, ocasionando menor lubrificação da articulação, levando a maior rigidez.
  • Diminuição das atividades ao ar livre, diminuindo os exercícios- tanto pessoas como animais tendem a ficar menos ativos no inverno, saindo menos para passeios ou para fazer atividades físicas no geral, o que contribui para a dor e rigidez articular.

Com a piora da osteoartrite os cães começam a apresentar sintomas característicos como:

  • Relutância em caminhar e correr, o animal passa mais tempo deitado.
  • Quando se movimento, se movimenta devagar e com maior rigidez, com maior dificuldade para se levantar ou deitar.
  • Alguns animais começam a poupar a articulação afetada e claudicam
  • Outros ainda tem dificuldade para dobrar o joelho, sentando com os membros esticadas
  • Animais com muita dor podem ate diminuir a ingestão de alimentos e até vocalizarem de dor ou ficarem agressivos ao serem tocados nas articulações afetadas.

Manejo e tratamento da osteoartrite  

A osteoartrite pode ser amenizada com o controle de peso do animal, visto que os sintomas são piores quando há um sobrepeso nas articulações.

Quando o animal emagrece, diminuímos o estresse mecânico sobre as articulações, melhorando a condição clínica do animal.

Devemos orientar os tutores a adaptarem o ambiente em que o animal vive , para evitar ao máximo pisos lisos e escorregadios pois estes contribuem para o estresse mecânico sob as articulações, além de predispor o paciente ao risco de escorregões e lesões ortopédicas, como luxações e fraturas. O ideal seria pisos vinílicos emborrachados, ou tapetes de EVA colocados especialmente nos locais de maior circulação do paciente.

E devemos sempre que possível instituir terapias medicamentosas para o controle da dor e inflamação, principalmente nos casos de agudização do processo doloroso.

Podemos usar e/ou associar analgésicos e de anti-inflamatórios não esteroidais para controlar a dor crônica, que é debilitante e que afeta diretamente o bem-estar de nossos pacientes. Anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) como o Firocoxib (PREVICOX), trazem alivio rápido da dor e são bastante seguros.

O uso de terapias mais modernas, como anticorpos monoclonais e células tronco, também é citado na literatura, com ótimos resultados, e deve ser considerado pelo clínico durante o manejo da osteoartrite. Além da associação de tratamentos adjuvantes como uso de condroprotetores,  acupuntura e fisioterapia.

Enfim, fique atento aos possíveis riscos aos seus pacientes, por conta das baixas temperaturas e oriente preventivamente seus clientes. Todo veterinário deve trabalhar com saúde preventiva e alivio da dor.

Para saber mais, ouça também o Podcast – Doenças de Inverno 

 

 

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