Adenocarcinomas dos sacos anais: Diagnóstico e Tratamento

Saiba como diagnosticar e tratar adenocarcinomas dos sacos anais!

16 de novembro de 2023
adenocarcinomas dos sacos anais

Todos os mamíferos carnívoros são providos de divertículos cutâneos como os sacos anais, que vão se abrir ventralmente nas margens laterais do ducto anal e estão localizados entre os músculos do esfíncter anal interno e externo, localizados ventrolateral, onde há existência de um ducto que se abre na superfície da pele. Na base do saco anal estão localizadas as glândulas apócrinas e no ducto as glândulas sebáceas. Estas eliminar o seu conteúdo e juntamente com bactérias e células epiteliais formam o fluido dos sacos anais, que terá odor, cor e consistência característicos de cada animal.

Os tumores benignos que acometem a região perianal de cães serem aqueles mais ocorrentes, o adenocarcinoma de sacos anais pode corresponder a 2% das neoplasias em cães.

Afeta, na maior parte dos casos, animais de sete a 12 anos de idade e, segundo a literatura compilada, raças como o Cocker Spainel, Daschund, Pastor Alemão, Labrador Retriever e Golden Retriever são as mais acometidas. A predisposição sexual ainda é controversa, alguns estudos demonstram que não há predileção sexual, uma vez que não parece haver influência hormonal para o desenvolvimento de tal neoplasia, contudo aparentemente os machos são aqueles mais afetados.

É uma enfermidade de natureza maligna e invasiva, tendo origem nas células apócrinas da região perianal de cães. Em 50% dos cães acometidos observa-se hipercalcemia, indicando um mau prognóstico.

A hipercalcemia provoca vasoconstrição renal com consequente diminuição do fluxo sanguíneo e da taxa de filtração glomerular. Em alguns casos pode ocorrer mineralização no epitélio renal e azotemia renal. As manifestações clínicas de hipercalcemia severa são: poliúria, polidipsia, constipação, hipertensão, fraqueza e tremores musculares, depressão, êmese, bradicardia, estupor e em casos muitos severos coma e morte. O mecanismo associado ao desenvolvimento de hipercalcemia em pacientes com carcinoma de saco anal é a produção, pelo tumor, de uma proteína denominada proteína relacionada ao paratormônio (PTH-rP), que eleva a atividade dos osteoclastos, destruindo a matriz óssea e liberando cálcio para o sangue.

Manifestações clínicas de Adenocarcinomas dos sacos anais

O paciente com adenocarcinoma de sacos anais na grande maioria das vezes não apresenta manifestações sistêmicas, apenas dificuldade de defecação. Contudo, pode apresentar-se com disorexia, anorexia, perda de peso, letargia, alterações de defecação o que pode indicar eventuais metástases.

Ao exame físico observa-se formação de consistência firme, unilateral, de tamanho variável e de localização ventrolateral ao ânus. À palpação deve-se avaliar o grau de mobilidade, adesão a estruturas adjacentes, determinar se a formação está bem delimitada e presença de úlceras na pele. O exame dos linfonodos pode revelar aumento de tamanho, formas irregulares e com consistência muito firme.

Adenocarcinoma perianal em um cão idoso.

Adenocarcinoma perianal em um cão idoso.

Diagnóstico

O diagnóstico é baseado nos achados de anamnese e de exame físico, resultados de exames laboratoriais e de exames de imagem, como o ultrassom. Contudo para a confirmação utiliza-se a citologia aspirativa por agulha fina (CAAF) como teste de triagem por ser simples, rápido e seguro. Contudo, muitas vezes a confirmação se dá apenas pela realização de bióspia e exame histopatológico.

Tratamento

O tratamento para o adenocarcinoma de sacos anais baseia-se na excisão cirúrgica di tumor associada à quimioterapia e radioterapia. Existem distintas técnicas cirúrgicas utilizadas para remoção da formação, como por exemplo, a saculectomia anal, com técnicas abertas ou fechadas, e sua utilização depende da preferência de cada cirurgião. As complicações pós-operatórias da intervenção cirúrgica incluem infecção, formação de fístulas, estenose anal e incontinência fecal.

Prognóstico

O prognóstico é reservado a ruim e depende principalmente da possível presença de metástases, o tumor tem alto índice de metástases, e grau de hipercalcemia. Ainda, como pode ser dificultosa a retirada da formação com margem de segurança, pode haver alto índice de recidivas.

Por Rita Carmona
Graduada pela FMVZ-USP e mestre em Ciências Veterinárias com foco em Dermatologia Veterinária pela mesma instituição. Foi docente na FESB-Bragança Paulista (2003-2018) e na Universidade Anhembi Morumbi até 2022, lecionando Semiologia e Clínica Médica de Pequenos Animais. Experiência de mais de 20 anos em dermatologia veterinária. Membro da diretoria científica da SBDV, além de integrar a Comissão de outorga de título de especialista da mesma sociedade. Ministra aulas nos cursos de pós-graduação de Clínica de Pequenos Animais, Clínica de Felinos e Dermatologia Veterinária na Equalis e é sócia fundadora do Vetsapiens.

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