Saiba como diagnosticar e tratar adenocarcinomas dos sacos anais!
Todos os mamíferos carnívoros são providos de divertículos cutâneos como os sacos anais, que vão se abrir ventralmente nas margens laterais do ducto anal e estão localizados entre os músculos do esfíncter anal interno e externo, localizados ventrolateral, onde há existência de um ducto que se abre na superfície da pele. Na base do saco anal estão localizadas as glândulas apócrinas e no ducto as glândulas sebáceas. Estas eliminar o seu conteúdo e juntamente com bactérias e células epiteliais formam o fluido dos sacos anais, que terá odor, cor e consistência característicos de cada animal.
Os tumores benignos que acometem a região perianal de cães serem aqueles mais ocorrentes, o adenocarcinoma de sacos anais pode corresponder a 2% das neoplasias em cães.
Afeta, na maior parte dos casos, animais de sete a 12 anos de idade e, segundo a literatura compilada, raças como o Cocker Spainel, Daschund, Pastor Alemão, Labrador Retriever e Golden Retriever são as mais acometidas. A predisposição sexual ainda é controversa, alguns estudos demonstram que não há predileção sexual, uma vez que não parece haver influência hormonal para o desenvolvimento de tal neoplasia, contudo aparentemente os machos são aqueles mais afetados.
É uma enfermidade de natureza maligna e invasiva, tendo origem nas células apócrinas da região perianal de cães. Em 50% dos cães acometidos observa-se hipercalcemia, indicando um mau prognóstico.
A hipercalcemia provoca vasoconstrição renal com consequente diminuição do fluxo sanguíneo e da taxa de filtração glomerular. Em alguns casos pode ocorrer mineralização no epitélio renal e azotemia renal. As manifestações clínicas de hipercalcemia severa são: poliúria, polidipsia, constipação, hipertensão, fraqueza e tremores musculares, depressão, êmese, bradicardia, estupor e em casos muitos severos coma e morte. O mecanismo associado ao desenvolvimento de hipercalcemia em pacientes com carcinoma de saco anal é a produção, pelo tumor, de uma proteína denominada proteína relacionada ao paratormônio (PTH-rP), que eleva a atividade dos osteoclastos, destruindo a matriz óssea e liberando cálcio para o sangue.
Manifestações clínicas de Adenocarcinomas dos sacos anais
O paciente com adenocarcinoma de sacos anais na grande maioria das vezes não apresenta manifestações sistêmicas, apenas dificuldade de defecação. Contudo, pode apresentar-se com disorexia, anorexia, perda de peso, letargia, alterações de defecação o que pode indicar eventuais metástases.
Ao exame físico observa-se formação de consistência firme, unilateral, de tamanho variável e de localização ventrolateral ao ânus. À palpação deve-se avaliar o grau de mobilidade, adesão a estruturas adjacentes, determinar se a formação está bem delimitada e presença de úlceras na pele. O exame dos linfonodos pode revelar aumento de tamanho, formas irregulares e com consistência muito firme.
Diagnóstico
O diagnóstico é baseado nos achados de anamnese e de exame físico, resultados de exames laboratoriais e de exames de imagem, como o ultrassom. Contudo para a confirmação utiliza-se a citologia aspirativa por agulha fina (CAAF) como teste de triagem por ser simples, rápido e seguro. Contudo, muitas vezes a confirmação se dá apenas pela realização de bióspia e exame histopatológico.
Tratamento
O tratamento para o adenocarcinoma de sacos anais baseia-se na excisão cirúrgica di tumor associada à quimioterapia e radioterapia. Existem distintas técnicas cirúrgicas utilizadas para remoção da formação, como por exemplo, a saculectomia anal, com técnicas abertas ou fechadas, e sua utilização depende da preferência de cada cirurgião. As complicações pós-operatórias da intervenção cirúrgica incluem infecção, formação de fístulas, estenose anal e incontinência fecal.
Prognóstico
O prognóstico é reservado a ruim e depende principalmente da possível presença de metástases, o tumor tem alto índice de metástases, e grau de hipercalcemia. Ainda, como pode ser dificultosa a retirada da formação com margem de segurança, pode haver alto índice de recidivas.
Por Rita Carmona
Graduada pela FMVZ-USP e mestre em Ciências Veterinárias com foco em Dermatologia Veterinária pela mesma instituição. Foi docente na FESB-Bragança Paulista (2003-2018) e na Universidade Anhembi Morumbi até 2022, lecionando Semiologia e Clínica Médica de Pequenos Animais. Experiência de mais de 20 anos em dermatologia veterinária. Membro da diretoria científica da SBDV, além de integrar a Comissão de outorga de título de especialista da mesma sociedade. Ministra aulas nos cursos de pós-graduação de Clínica de Pequenos Animais, Clínica de Felinos e Dermatologia Veterinária na Equalis e é sócia fundadora do Vetsapiens.
Referências bibliográficas
Burdzinska, A., Galanty, M., Wiecek, S., Dabrowski, F.A., Lotfy, A., Sadkowski, T. (2022). The Intersection of Human and Veterinary Medicine – A Possible Direction towards the Improvement of Cell Therapy Protocols in the Treatment of Perianal Fistulas. Internacional Journal of Molecular Sciences. 23(22), 13917. 10.3390/ijms232213917
Fossum, T. W. (2014). Cirurgia de Pequenos Animais (4a ed.). Elsevier
Jark, P. C., Grandi, F., Rosseto, V. J. V., Amorim, R .L., Ranzani, J. J. T., & Machado, L. H. A. (2010). Aspectos gerais das neoplasias perianais em cães. Medvep. Revista Científica de Medicina Veterinária, Pequenos Animais e Animais de Estimação, 8(24), 116-122. http://hdl.handle.net/11449/140551.
Nelson, R. (2015) Medicina Interna de Pequenos Animais (5a ed.). Grupo Gen
Repasy, A. B., Selmic, L. E., Kisseberth, W. C. (2022). Canine Apocrine Gland Anal Sac Adenocarcinoma: A Review. Topics in Companion Animal Medicine, 50 (September/October 2022), 100682. 10.1016/j.tcam.2022.100682
Santana, G. C., & Almeida, A. J. (2021). Manual de terapia em animais domésticos. Editora Manole.