Cetamina: anestésico para animais municia tráfico no DF
A Polícia Civil do DF desmantelou uma rede de tráfico de cetamina, um poderoso anestésico autorizado, no Brasil, apenas para uso veterinário, mas que vem sendo consumido de forma recreativa em festas e baladas
Agentes da 5ª Delegacia Polícia de Brasília, com apoio da Divisão de Operações Especiais (DOE) da Polícia Civil do DF, desmantelaram, na sexta-feira (7/6), uma rede de tráfico de cetamina, um poderoso anestésico autorizado, no Brasil, apenas para uso veterinário, mas que vem sendo consumido de forma recreativa em festas e baladas.
A Operação Rouxinol teve como alvo uma clínica para pets em Ceilândia, que resultou na prisão em flagrante de um médico veterinário de 30 anos, suspeito de adquirir e distribuir ilegalmente a substância. De acordo com a polícia, o veterinário aproveitava-se da profissão e de ser proprietário da clínica para desviar o fármaco.
A operação apontou que o profissional detido comprou 93 litros do produto em pouco mais de um ano, quantidade suficiente para anestesiar pelo menos 125 mil gatos, 41,6 mil cachorros ou 1,2 mil cavalos — volume incompatível com a prescrição regular de um medicamento de uso veterinário.
As investigações, que duraram cinco meses, indicam que a quantidade total de droga distribuída pode ser o dobro do que foi apreendido em Ceilândia, em associação com outros fármacos anestésicos também encontrados na clínica.
Para os investigadores, isso evidencia o potencial de risco à saúde pública. Na operação foram apreendidos mais de 10 frascos de cetamina com o veterinário, o que, segundo a polícia, reforça as evidências contra ele. Mesmo sem passagens anteriores, o profissional preso será indiciado pelo crime de tráfico de drogas, que pode render uma pena de até 15 anos de detenção.
A operação contou com o apoio do Programa de Vigilância em Defesa Agropecuária para Fronteiras Internacionais (Vigifronteira), do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), responsável pelo controle da venda de cetamina.
Outras apreensões
O aumento da procura pela substância vem ficando evidente pelo crescimento do número de apreensões por todo o país.
A droga é apontada como a provável causa da morte da modelo Djidja Cardoso, a Sinhazinha do Boi Garantido, na semana passada, em Manaus. Em dezembro do ano passado, o Ministério da Agricultura, em conjunto com as polícias civis do Distrito Federal, de São Paulo e do Rio de Janeiro, realizou a Operação Keyla, codinome utilizado por usuários para se referir à cetamina, apreendendo 7.674 frascos de produtos de uso veterinário à base da substância.
A quantidade apreendida é capaz de sedar cerca de 10 mil cavalos, quase 10 vezes mais do que o volume identificado pela operação de ontem. Nessa operação, deflagrada há pouco mais de seis meses, as apreensões totalizaram um prejuízo de até R$ 3 milhões aos envolvidos no esquema, segundo apontaram as autoridades policiais. Muitos desses produtos controlados, sem registro ou falsificados são traficados da Argentina, da Holanda e do Canadá.
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Cada vez mais usada por frequentadores de baladas de música eletrônica, a cetamina, também chamada de ketamina ou de special key, é usada como droga recreativa que atua, inicialmente, com efeitos sedativos, relaxando o usuário antes de apresentar o efeito alucinógeno, que pode levar o usuário a uma alteração da percepção da realidade.
Como também causa perda de memória, é amplamente utilizada por criminosos em golpes como o “boa noite, Cinderela”, em que a vítima é roubada depois de dopada por uma bebida batizada com a substância.
É uma droga especialmente perigosa porque o organismo humano tem a capacidade de criar resistência aos efeitos alucinógenos do anestésico, o que faz os usuários ampliarem muito rapidamente a quantidade de doses para conseguir os mesmos efeitos, o que aumenta o risco de overdose.
De acordo com Eloisa Dutra Caldas, professora de toxicologia da Universidade de Brasília (UnB), o anestésico é largamente usado na medicina veterinária, que vem, desde a década de 1980, sendo desviada para o uso abusivo de pessoas, que usam a substância como psicoativo.
“A droga proporciona uma alteração de consciência, mas uma dose muito alta pode causar complicações e até levar à morte”, explica. A cetamina age no organismo deprimindo o sistema nervoso. “Não há problemas relacionados ao uso crônico, mas sim, ao uso agudo. Uma dose muito alta é suficiente para causar complicações sérias”, conclui a professora.
Fonte: Correio Brasiliense