Prestação de serviços da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia no decorrer dos tempos
Enrico Lippi Ortolani – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Por Enrico Lippi Ortolani, professor e ex-diretor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP
A Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) foi uma das unidades pioneiras na formação da USP. Na verdade, a Escola de Veterinária de São Paulo, então ligada à Secretaria de Agricultura de São Paulo, foi fundada em 1919, sendo a segunda mais antiga em exercício no Brasil.De lá para cá, mudou de nome, cresceu tremendamente e prestou muito serviço à sociedade. Na área da saúde, a FMVZ é sempre lembrada pelo seu Hospital Veterinário (HOVET), o maior da América Latina, com 3.500 atendimentos mensais. Funcionando desde 1924, foi o pioneiro a implantar 16 especialidades em seu atendimento. Além de cães e gatos, o HOVET também atende equinos, ruminantes e aves silvestres. Desde 2022, firmou convênio com a Prefeitura de São Paulo para consultar e realizar cirurgias gratuitas de cães e gatos aos munícipes.
Até 1975, a raiva matava ao redor de 80 pessoas por ano na cidade de São Paulo. A FMVZ ajudou a organizar um plano eficiente e atuou, em conjunto com outros institutos e a Secretaria de Saúde, para erradicar a raiva canina, principal espécie transmissora da doença à época.
A febre maculosa em humanos, transmitida por um carrapato de animais silvestres, em especial a capivara, cães e cavalos, foi melhor compreendida e controlada após os estudos inéditos feitos pela FMVZ. Como em boa parte dos casos humanos estava envolvida a capivara, muitos achavam que sua população deveria ser sacrificada em massa. Porém, as pesquisas revelaram que, em circunstâncias e locais, ela era um potencial transmissor e seu sacrifício poderia aumentar o risco dessa zoonose. Hoje, a FMVZ monitora as populações de carrapatos nas capivaras nos campi da USP e em vários locais do Estado e fora deste, alertando quando aumenta o risco da doença.
Nestas últimas décadas, a FMVZ tem trabalhado em conjunto com o Ministério de Agricultura e Pecuária no controle da brucelose, da tuberculose e da raiva bovina nos rebanhos, que causam grandes prejuízos às propriedades, além de poderem provocar doença em seres humanos.
Na formação de recursos humanos, a FMVZ foi essencial ao País, além de graduar mais de 4700 veterinários, abriu, em 1965, sua pós-graduação, sendo hoje a maior do Brasil na área, formando até o momento mais de 4.500 doutores e mestres, que hoje são professores, pesquisadores e prestadores de serviço em destacadas instituições. Desde 1983, quando instituiu a residência em medicina veterinária, já formou 550 profissionais.
Dentre as muitas atividades, os residentes atuam também no Programa de Saúde na Família junto às comunidades, divulgando medidas preventivas contra as zoonoses. Na área de especialização, a FMVZ já habilitou 360 profissionais. Pelo renome de seu corpo docente e suas reconhecidas atividades práticas, a FMVZ já recebeu mais de 29.000 estagiários, sendo cerca de 15% destes estrangeiros de vários continentes. Finalmente, nesta área, destaca-se que a participação ativa da FMVZ na formação das faculdades coirmãs de veterinária e zootecnia da Unesp (Botucatu e Jaboticabal) e da própria USP (FZEA).
O Museu de Anatomia Veterinária, no campus de São Paulo, é um bom exemplo de ensino e entretenimento. Ele é visitado anualmente por 10.000 pessoas, grande parte delas estudantes de 250 escolas. Lá está o esqueleto do Cacareco, um rinoceronte do Zoológico de São Paulo, que foi o mais votado (95 mil sufrágios), como um ato de protesto, na eleição para vereadores em 1959.
Na área de produção animal, a FMVZ atuou firmemente para o crescimento da avicultura e da bovinocultura de corte e de leite. A criação de aves no Brasil era rudimentar na década de 1960. Hoje somos uma potência, sendo o maior exportador de carne de frango. Nos primórdios da avicultura, o principal gargalo eram as doenças. Em 1963, criou-se na FMVZ um Centro de Diagnóstico de Doenças de Aves, que recebia animais de todo o Brasil, sendo chave na descoberta e controle destas enfermidades.
Na bovinocultura de corte, criou-se em 1974 um núcleo pioneiro para a implementação das primeiras unidades de confinamento em fazendas, inicialmente em torno de Pirassununga, hoje em todo Brasil. O confinamento é responsável pela engorda de bovinos, que hoje reúne 7,5 milhões de animais, e que favorece muito a qualidade da carne, o aumento de produtividade das fazendas e que, em conjunto com outras medidas, evita a expansão de novas áreas para a pecuária, em especial na Amazônia.
O Brasil tem a segunda maior população de pets do planeta (54 milhões de cães e 24 milhões de gatos). A FMVZ tem uma sólida linha de pesquisa em nutrição de cães e gatos, desenvolvendo, junto às empresas, novas rações e suplementos alimentares.
Outro marco é sua atividade na reprodução animal, com destaque para os bovinos, o que desencadeou um grande avanço na produtividade de nossos rebanhos, por meio de melhor genética. O Brasil lidera no mundo o número de vacas (17,5 milhões) inseminadas artificialmente por ano, na técnica chamada de “tempo fixo” e está no segundo posto na transferência de embriões (1,2 milhões). Ambas técnicas exigem rígidos protocolos que foram em grande parte desenvolvidos por professores da FMVZ e divulgados para 7.000 veterinários de todo Brasil.
Fonte:https://jornal.usp.br/artigos/prestacao-de-servicos-da-faculdade-de-medicina-veterinaria-e-zootecnia-no-decorrer-dos-tempos/