BLOG – 28 de setembro – Dia Mundial de Combate a Raiva
28 de setembro – Dia Mundial de Combate a Raiva
Dia 28 de setembro é comemorado o dia mundial de combate a raiva. E o que nós veterinários temos a ver com esta data?
No mundo todo organizações que trabalham com saúde animal e saúde humana celebram e reconhecem ações e iniciativas que ajudam a combater e prevenir esta terrível zoonose:
https://rabiesalliance.org/world-rabies-day
Como todos sabemos, a Raiva é uma doença infecciosa causada por um Lyssavirus, que acomete mamíferos, inclusive o homem, e é uma das zoonoses de maior importância para saúde pública, por ser fatal, por acontecer em mais de 150 países, e principalmente porque mais de 99% dos casos humanos mundiais é causado principalmente pela mordedura de cães infectados.
A raiva ainda é uma das 20 Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs) reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e mesmo sendo uma doença passível de prevenção, ainda causa mais de 59 mil mortes por ano e aflige de forma avassaladora os mais vulneráveis, os mais pobres. Sabemos que 40% destes mortos são crianças e adolescentes que vivem na Asa e África.
As perdas econômicas anuais por causa da doença giram em torno de 8,6 bilhões de dólares, principalmente devido a mortes prematuras, mas também por causa de gastos com tratamento de seres humanos infectados, pela perda de renda para as famílias vítimas da raiva e outros custos.
Com uma sobrevida inferior a 0,1%, os expostos ao vírus necessitam de soros (imunoglobulinas) ou vacinas (profilaxia pós-exposição, PEP) para não morrerem, mas infelizmente não são todos os países que disponibilizam este tratamento de forma gratuita, como é feito em nosso país.
O Brasil sempre se destacou pelo seu Programa Nacional de Profilaxia da Raiva (PNPR), criado em 1973, que há décadas vem implementando ações nacionais gratuitas como – vacinação em massa de cães e gatos, profilaxia pré exposição (vacinação de humanos – grupos de risco) e profilaxia pós exposição (PPE) em humanos que tiveram contato com animais suspeitos de Raiva.
Sabemos que a vacinação em massa de cães e gatos resultou num decréscimo significativo nos casos de raiva nestes animais, e com isso permitiu um controle da raiva em cães, gatos e humanos, nas áreas urbanas no país. Mas devemos salientar que na última década, a maioria dos casos de raiva em cães e gatos têm sido identificados como “variante 3”, ou seja, variante advinda de morcegos hematófagos ( 20% das espécies de morcegos são transmissoras de raiva) e também da variante compatível com canídeos selvagens. Leia abaixo trechos retirados do site do Ministério da Saúde – “Situação epidemiológica da raiva no Brasil”:
“No período de 2010 a 2021, foram registrados 39 casos de raiva humana, sendo que em 2014, não houve nenhum caso registrado. Desses 39 casos, 9 tiveram o cão como animal agressor, 20 por morcegos, 4 por primatas não humanos, 4 por felinos e em um deles não foi possível identificar o animal agressor.
Em 2015, os 2 casos de raiva humana registrados no Brasil, ocorreram um na Paraíba, transmitido por gato, identificação variante de morcego, e o outro no Mato Grosso do Sul, pela variante 1, típica de cães. Esse caso no Mato Grosso do Sul, ocorreu em razão da epizootia canina nos municípios de Corumbá e Ladário, a partir da introdução de animal positivo pela fronteira com a Bolívia.
Em 2016 foram notificados 2 casos de raiva humana, um em Boa Vista/RR, transmitido por felino infectado com a variante 3 (transmissão secundária) e um caso em Iracema/CE por morcego (Desmodus rotundus), também pela variante 3.
Em 2017, foram registrados 6 casos de raiva humana, todos pela variante 3 de morcegos hematófagos (Desmodus rotundus), sendo que cinco deles em razão de agressões diretas por morcegos – três deles ocorreram em adolescentes de uma mesma família, residentes em uma reserva extrativista no município de Barcelos, estado do Amazonas, os outros dois casos ocorreram na Bahia e Tocantins. O sexto caso ocorreu em Pernambuco, após agressão de um gato de rua infectado com a variante 3, denominado de raiva secundária (“spillover”).
No ano de 2018, foram registrados 11 casos de raiva humana no Brasil. Destes, 10 relacionados a um surto em área ribeirinha do município de Melgaço, no estado do Pará, onde 9/10 eram menores de 18 anos e todos com histórico de espoliação por morcegos e sem realização de profilaxia antirrábica pós-exposição. E o décimo primeiro caso registrado foi um homem morador do estado do Paraná, mas que foi espoliado por morcego em Ubatuba, no estado de São Paulo e buscou atendimento e realização de profilaxia antirrábica 12 dias após exposição.
No ano de 2019, foi registrado 1 caso de raiva humana no Brasil, no município de Gravatal/SC, transmitido por felino infectado com variante 3.
Em 2020, foram notificados 2 casos de raiva humana no Brasil, 01 em adolescente de 14 anos, no município de Angra dos Reis/RJ, transmitido por morcego infectado com variante 3. O segundo caso ocorreu no município de Catolé do Rocha/PB, em uma mulher de 68 anos, transmitido por uma raposa com variante compatível com canídeos selvagens (Cerdocyon thous)”
https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/r/raiva
Desde 2015, a OMS, a OIE, a FAO e a GARC lideram uma iniciativa chamada “United Against Rabies – Unidos Contra a Raiva” que visa atingir a meta de “Zero mortes humanas por Raiva causada por cães até 2030”.
A iniciativa “Unidos Contra a Raiva” trabalha para potencializar as diferentes ferramentas e os conhecimentos existentes de uma forma coordenada para capacitar, envolver e permitir que os países consigam salvar vidas humanas desta doença evitável.
E para isso implementam um Plano Estratégico que prioriza as mudanças sociais necessárias para atingir “Zero até 30” através de três objetivos:
Objetivo 1: Prevenir e responder com eficiência por meio do uso eficaz de vacinas, medicamentos, ferramentas, informações e tecnologias.
Objetivo 2: Gerar, inovar e medir o impacto por meio de políticas, orientação e governança; e gerar dados confiáveis para permitir uma tomada de decisão eficaz.
Objetivo 3: Manter o compromisso e os recursos humanos e econômicos para impulsionar o progresso (sustentabilidade dos programas de combate e prevenção a raiva)
https://www.who.int/rabies/Executive_summary_draft_V3_wlogo.pdf
Apesar desta iniciativa internacional, nos últimos meses, por conta da pandemia muitos países atrasaram seus programas de vacinação antirrábica e aqui no Brasil muitos colegas veterinários encontraram dificuldades em comprar a vacina antirrábica para uso em suas clínicas. Algumas empresas atribuíram essa dificuldade a pandemia, que afetou a todos, inclusive a indústria farmacêutica que teve problemas para comprar determinadas matérias primas e insumos necessários a produção das vacinas e também por problemas e dificuldades com a logística de importações, exportações e etc
O programa gratuito de vacinação de cães e gatos realizado anualmente pelo Ministério da Saúde também está atuando somente em cidades com maior risco de surtos e continua trabalhando com a vigilância epidemiológica para monitorar, rastrear e diagnosticar qualquer caso suspeito de raiva em animais ou humanos. De acordo com o MS: “Excepcionalmente no ano de 2019, a campanha de vacinação antirrábica ficou restrita às áreas de maior risco para a raiva, sendo realizada nos estados do Nordeste do Brasil (Maranhão, Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte) e estados que fazem fronteira com a Bolívia (Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Acre).Em 2020, devido a pandemia da Covid-19, excepcionalmente os estados de São Paulo (SP) e Tocantins (TO) e outros 219 municípios de diferentes UFs, optaram por não realizar a campanha de vacinação. A decisão foi respaldada nas recomendações do MS às Secretarias Estaduais de Saúde, por meio do Ofício Circular Nº 66/2020/SVS/MS, que sugeria avaliação da situação sanitária local e a possibilidade de realizar a Campanha de Vacinação após o período de vigência da emergência da Covid-19. Entretanto, para os locais que optaram por executar a campanha, recomendou-se a utilização de estratégias que evitassem aglomeração, observando todos os cuidados de prevenção recomendados pelo MS, tendo em vista a importância de se manter altas coberturas vacinais como medida de controle da raiva no ciclo urbano”
Diante de todos estes esforços e desafios nacionais e internacionais devemos fazer a nossa parte como veterinários. Devemos continuar a orientar e reforçar a importância da vacinação antirrábica para nossos clientes (tutores), mesmo no caso de cães e gatos que vivem em apartamentos. Não podemos afrouxar, pois o vírus da raiva ainda está circulando em populações de morcegos e em alguns animais silvestres, e é possível que nossos pacientes tenham contato com estes animais infectados mesmo morando nos grandes centos urbanos.
Quer se aprofundar no assunto da prevenção e combate a raiva?
Participe da CONFERÊNCIA “RAIVA NAS AMÉRICAS 2021” – RITA, que abordara os seguintes painéis: raiva e controle de morcegos; raiva canina e controle; diagnóstico; raiva humana e profilaxia; patogenia e imunologia; progresso em direção à meta zero até 2030; vacinas e antivirais e controle da raiva na vida silvestre e acontecerá de forma on line e gratuita nos dias 26 a 29 de outubro de 2021.
Acesse http://rita2021.com.br/index.html para mais informações e para fazer sua inscrição gratuita.
M.V. MSc. Rosangela Gebara