Qual a idade certa para castrar? Novas indicações
Ainda hoje a indicação da castração de cães e gatos gera controvérsias entre os veterinários e tutores. De um lado, vemos profissionais preocupados com o controle populacional e a prevenção de doenças, de outro veterinários preocupados com os impactos deste procedimento a longo prazo em alguns animais e ainda de outro lado, tutores que optam por não realizar o procedimento, muitas vezes em decorrência de falta de conhecimento ou de disseminação de informações erradas.
Mas, de forma geral, a castração traz uma série de benefícios, em especial quando falamos em medicina veterinária do coletivo e controle populacional de cães e gatos.
Ainda podemos dizer que ela traz benefícios individuais na saúde e comportamento.
Nos cães machos, a esterilização proporciona:
- Diminuição na demarcação de territórios pela micção;
- Melhora no odor da urina;
- Redução das fugas em busca de fêmeas no cio
- Diminuição da agressividade e brigas com outros animais decorrentes dos hormônios sexuais;
- Redução de latidos excessivos.
Além disso, a castração de machos ajuda na prevenção de doenças relacionadas aos androgênios, incluindo Hiperplasia Prostática Canina (HPB), condição que afeta potencialmente 50% dos cães sexualmente intactos após os 5 anos de idade e 95% a 100% dos cães sexualmente intactos a partir dos 9 anos. Cães com HPB também são predispostos ao desenvolvimento de cistos prostáticos, prostatite e abscessos prostáticos, além de adenomas perianais e hérnias perianais.
“Cães castrados representaram apenas 6,7% dos cães com distúrbio prostático benigno”, aponta a Dra Rosangela Ribeiro Gebara, mestra em medicina veterinária pela FMVZ-USP e especializada em ética e bem-estar animal. “A castração é o tratamento recomendado para a maioria dos cães com HBP clínica e resulta em diminuição do tamanho da próstata, regressão dos sinais clínicos e redução da probabilidade de desenvolver prostatite infecciosa”, explica .
Já no caso das fêmeas, a castração colabora na prevenção de doenças como câncer de mama, de ovário, infecções uterinas (piometra) e doenças venéreas transmissíveis, como o TVT. Além disso, evita a pseudociese, a morte por conta de partos distócicos, entre outras alterações.
“Em países nos quais a OSH não é realizada rotineiramente a incidência média de piometra pode ser de 25% das cadelas acima de 10 anos de idade”, afirma a Dra. Rosangela Gebara.
Existem contra-indicações para a castração?
Alguns estudos demonstram que raças de cães grandes e gigantes podem ter problemas se castrados precocemente. Uma pesquisa realizada pela Universidade de Davis nos EUA e publicada em 2020 avaliou 35 raças diferentes de cães e demonstrou que estes efeitos podem variar de acordo com a raça, o porte do animal e sexo. O estudo diz que “raças menores não apresentam problemas articulares, enquanto a maioria das raças maiores tende a ter distúrbios articulares, com exceção do Dog alemão e o Lébrel (galgo) irlandês – que não mostraram risco aumentado de distúrbios articulares quando castrados em qualquer idade”.
Os Boston terriers fêmeas castrados aos seis meses de idade, por exemplo, não apresentavam risco aumentado de distúrbios nas articulações ou câncer em comparação com cães intactos, mas os Boston terrier machos castrados antes de um ano de idade tinham riscos significativamente maiores.
Ou seja, esta pesquisa traz à discussão a necessidade de se avaliar individualmente os riscos e benefícios da castração e a idade certa para se fazê-la em cada animal.
De forma a evitar alguns efeitos deletérios observados após a OSH em fêmeas de raças gigantes, tem crescido nos últimos anos a indicação por deixar os ovários nessas raças. Mas é preciso lembrar que as fêmeas que mantiverem os ovários irão continuar a ter cios, apresentando aumento da vulva, mas sem a apresentação de secreções. Também serão mantidos os comportamentos de cio em relação a aceitar a monta de cães machos e algumas podem apresentar mudanças comportamentais e até mesmo gravidez psicológicas no período pós-cio.
Além disso, permanece também o risco de desenvolverem câncer de ovários e de mama, assim como piometra de coto e cistos ovarianos. Este último pode ser prevenido no caso do procedimento ser realizado em filhotes ainda muito jovens, entre 3 e 5 meses de idade.
“Como nessa idade há uma quantidade mínima de gordura ao redor dos ovários, é mais fácil assegurar a remoção de cada milímetro de tecido uterino”, explica a Dra. Rosangela Gebara, “como estamos deixando os ovários intactos, não há nenhuma desvantagem em fazer este procedimento antes que o cão esteja totalmente desenvolvido, ou seja, não há impacto no crescimento ou no desenvolvimento do animal como um todo”.
Existe um consenso no que diz respeito à castração de cães?
Em uma declaração conjunta de 2013, o American College of Theriogenologists e a Society for Theriogenology afirmaram que animais de companhia não destinados à reprodução devem ser esterilizados, mas afirmam que a decisão deva ser tomada caso a caso e levar em consideração a idade, a raça, o sexo, o tipo de animal, o porte, o ambiente em que vive e o temperamento.
De acordo com as diretrizes da AAHA (American Animal Hospital Association), os animais devem ser esterilizados levando também em consideração a raça, o sexo, o porte, o tipo de ambiente em que vive e o temperamento.
A castração é indicada nas seguintes idades:
- Gatos (machos e fêmeas) de preferência antes de completarem 5 meses. Nos EUA há campanhas chamadas – “Fix Felines by Five”, que recomenda a esterilização principalmente das gatas antes dos cinco meses de idade.
- Cadelas de raças pequenas (que terão abaixo de 20 Kg quando adultas) devem ser castradas antes do primeiro cio (entre cinco e seis meses).
- Cães machos de raças pequenas (que terão abaixo de 20 Kg quando adultos) devem ser castrados antes dos 6 meses.
- Cães de raças grandes (que terão mais de 20 Kg quando adultos) devem ser castrados após a interrupção do crescimento, que geralmente ocorre entre 9 e 15 meses de idade.
“A decisão sobre quando castrar uma cadela ou um cão de raça grande/gigante deve ser baseada em muitos fatores e deve ser decidida em conjunto com o tutor”, indica a Dra. Rosangela Gebara, “devemos levar em conta uma série de fatores como: onde este animal vive, ele vive nas ruas, é animal comunitário, tem acesso à rua, vivem em um abrigo com outros animais, vai ser doado para pessoas que não terão condições de castrar depois etc.”
“Em relação a idade, devemos sempre avaliar cada caso individualmente”, continua, “devemos pesar os riscos e benefícios em cada caso, e avaliar em relação o equilíbrio entre o benefício de diminuir a incidência de neoplasia mamária e as ninhadas indesejadas quando realizada antes do primeiro estro versus diminuir o risco de doença ortopédica, alguns cânceres e incompetência do mecanismo do esfíncter uretral se realizado mais tarde (depois do período de crescimento)”.
É importante lembrar que a castração de animais é uma ferramenta importantíssima no manejo populacional, na prevenção do abandono, na promoção da guarda responsável e na promoção da Saúde Única.
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