Cães nascem “prontos” para comunicar com os humanos
É pelo menos o que diz um estudo recente: cães muito novos e com pouco contato com pessoas conseguem entender gestos como o de apontar e têm tendência para prestar atenção ao rosto dos humanos.
O estudo, publicado na Current Biology concluiu que cães com apenas oito semanas “exibem competências sociais e interesse nos rostos humanos”. Aliás, desde o primeiro ensaio que os cachorros mostram a capacidade de reagir quando um humano aponta para algo e seguir nessa direção. Fatores genéticos podem ajudar a explicar a variação das competências sociais entre os animais.
Emily E. Bray, da Universidade do Arizona, dedica-se a analisar o comportamento animal e é a principal autora deste estudo. A investigadora disse à Smithsonian Magazine que “tudo isto sugere que os cães estão biologicamente preparados para comunicar com humanos”
A equipe por trás deste estudo tinha duas perguntas: a primeira era perceber se cães muito novos, que ainda não tinham oportunidade de passar tempo significativo com humanos, eram sensíveis às tentativas destes para comunicar. A segunda era perceber se há uma explicação genética para a capacidade de um cão sociabilizar.
Assim, em 2017, Emily E. Bray e a sua equipe testaram 375 labradores e golden retriever com idades entre as oito e as dez semanas. Os animais são da “Canine Companions for Independence”, uma organização que treina animais de companhia para apoiar pessoas com deficiência ou que sofrem de stress pós-traumático.
Durante o estudo, os cientistas orientaram os cães diversas vezes para um conjunto de quatro tarefas que tinham o objetivo de aferir as suas competências sociais.
As primeiras duas tarefas serviam para aferir se os cachorros tinham capacidade de entender gestos humanos. Em ambos os casos, os cães seguiram o objeto que lhes estava a ser indicado em 67% das vezes.
Os cachorros tiveram tanto sucesso nestas tarefas como os cães adultos testados. “Seja como for, eles [os cachorros] estão a conseguir resolver este problema desde a primeira exposição e não estão a melhorar com o tempo. Isso diz-nos que eles vêm preparados para fazer isto, não precisam de o aprender”, nota Evan MacLean, co-autor deste estudo.
Na terceira tarefa, foi colocada uma gravação de uma voz, semelhante à de uma criança, a interagir com o cachorro. Enquanto isso, um dos investigadores ficava a olhar para o animal, com o objetivo de medir quando tempo é que este prestava atenção à cara do humano. Em média, os cães mais pequenos ficavam seis segundos a olhar para o humano, enquanto os cães adultos tendem a ter mais tempo de contacto com o humano. Isto sugere que os cães aprendem com o tempo a prestar mais atenção ao rosto humano.
O último teste, qualificado pelos investigadores como “a tarefa impossível”, passava por colocar alguns petiscos dentro de uma martita de plástico. A tarefa de aceder aos petiscos foi ficando progressivamente mais difícil, até se tornar impossível ao animal chegar a eles. O objetivo era perceber se os cachorros faziam contacto visual com os humanos em busca de ajuda. Nesta tarefa, os cachorros tendiam a ignorar os humanos ao seu redor. Isto sugere que o instinto de recorrer a um humano para auxílio é algo que os cães aprendem após a interação prolongada com pessoas.
Veja aqui os testes.
O estudo concluiu ainda que 40% das variações registadas na performance ao longo das primeiras três tarefas está relacionada com características genéticas ou hereditárias dos animais.
Perceber se há características genéticas que tornam os cães mais sociáveis pode ser fundamental para o sucesso de organizações como a Canine Companions for Independence. Segundo Evan MacLean, “cerca de metade dos cães que entram em programas para serem animais de companhia não os completam. Então, perceber que cães têm maior capacidade de ser excelentes nesse papel pode poupar recursos e ajudar pessoas”, explicou.